São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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O Palmeiras deslumbrante não existe mais

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quem vir esse duplo zero no placar poderá achar que o campeão paulista, o time que deslumbrou o país no primeiro semestre, despencou para a posição de mero coadjuvante no Brasileiro que mal se inicia.
Afinal, o Bahia está destroçado pelas dívidas e toda sua esperança repousa na revivificação da dupla Charles e Bobô, um capítulo da história desse clube que julgávamos congelado no passado.
Mas quem viu o jogo sabe que o Palmeiras poderia ter enfiado uma goleada pra mais de meia-dúzia, não fossem a atuação espetacular do goleiro Jean e a má pontaria do ataque palestrino, um time que está se refazendo em outros moldes, já em cima do torneio.
É verdade que o Bahia também desperdiçou lá suas chances, umas três, já no finalzinho da partida, quando o Palmeiras caminhava entre o desânimo e o desespero da bola que teimava em não cair na rede.
Isso, porém, não quer dizer que esse time tenha dado a volta por cima nas defecções de Muller e Rivaldo. Ao contrário: as ausências clamaram, sábado, pois o que faltou exatamente ao time foi uma daquelas arrancadas de Rivaldo que vira-e-mexe terminavam em disparo fatal, assim como um daqueles toques vertiginosos e precisos de Muller na área, que sempre colocavam um companheiro na cara do gol.
Esse Palmeiras, infelizmente, já era. Mas nasce um outro: um pouco mais lento, menos exposto aos contragolpes, porém técnico o suficiente para chegar entre os primeiros.
*
Vendo a foto de Leandro com a camisa do Palmeiras, agora mais verde, num verde próximo da tradição, lembrei-me de Lima, o Garoto de Ouro. Ambos exibem uma calva precoce, que Lima escondia sob o gorrinho listrado de verde e branco.
No rosto talhado como a cinzel, a expressão serena, misto de segurança e modéstia.
No campo, as semelhanças se desfazem, embora permaneçam no coração generoso dos craques que se atiravam à luta em silêncio mas com denodo. Lima era a própria versatilidade: habilidoso, ambidestro, atuava de uma ponta à outra, passando pelas duas meias ou mesmo o comando do ataque, com a mesma desenvoltura.
Leandro é um típico volante moderno que privilegia a marcação e um raro senso de colocação no meio-campo que obriga a bola a pedir-lhe bênção quando vai ou vem.
Sábado, estreou no Palmeiras. Chegou de viagem, vestiu a camisa verde e jogou como se lá estivesse desde os tempos de Lima, o Garoto de Ouro.
*
Só um detalhe sobre a humilhante goleada de 6 a 0 que o Ajax sofreu diante da Juve, sexta-feira, pelo Torneio Teresa Herrera: Reizeger, Blind, Bogarde, Davids, Finidi, Kanu e Overmars fazem parte da lista dos campeões do mundo que foram negociados ou estão no estaleiro. Isso, sem falar em Seedorf, que já havia deixado o Ajax no ano passado.
Para completar: Kluivert só jogou no primeiro tempo e o finlandês Litmanen entrou no finalzinho do vexame. Em campo o tempo todo, apenas três campeões do mundo: o goleiro Van der Sar e os gêmeos De Boer.
Não justifica, mas explica.

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