São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Campanha distancia candidatos da atualidade

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira pesquisa feita após o início do horário eleitoral gratuito indicou mudança no quadro da cidade de São Paulo. A tribuna eletrônica ganha proeminência nas avaliações das campanhas.
Os diversos candidatos chamam a atenção pela sintonia que apresentam entre si e pela distância que mantêm da atualidade das notícias. A disputa começa morna.
A campanha televisiva fixa imagens estranhamente sutis dos candidatos à Prefeitura de São Paulo. Forja uma agenda para as eleições distante anos-luz do caos urbano que inferniza o cotidiano dos eleitores da megalópole e que inspira cada vez mais pessoas a sonharem com a alternativa de uma idílica vida no campo.
São Paulo vive uma situação de estrangulamento. Os infinitos quilômetros de congestionamentos, as incessantes tragédias causadas pelas inundações em tempos de chuva e calor, a asfixia e as doenças respiratórias trazidas pela poluição do ar em tempos de frio e inversão térmica sugerem que o ruído da bigorna não é mais uma sinfonia. Mas as propostas dos candidatos estranhamente continuam no mesmo registro. Fala-se em obras, avenidas, túneis. Fala-se também em uma humanização dos serviços prestados à população carente.
Cada coisa individualmente faz sentido. E provavelmente os eleitores gostariam de ver todas realizadas.
Mas o que dizer de algum modelo de desenvolvimento alternativo, sensível à qualidade de vida em uma cidade que obviamente não tem mais o que crescer? Falta um esforço de diferenciação dos candidatos. Falta o debate sobre o contraste entre as maravilhas apresentadas e os eventos da grande cidade.
Pouco se fala em transporte coletivo. Enquanto a cidade vive uma interessante e polêmica experiência de rodízio antipoluição, o tema permanece praticamente ausente das campanhas. Já o incêndio no abrigo da Prefeitura de São Paulo se fez presente, indicando um caminho.
Talvez a propaganda política mais efetiva de que se tem notícia ainda esteja representada na filmografia de Leni Reifensthal, cineasta de Hitler. Ali há uma forte sinergia entre inovações formais e idéias totalitárias. O desafio hoje é integrar formas e conteúdos em disputas democráticas. Nesse esforço, mais senso jornalístico não faria mal a ninguém.

Texto Anterior: Conheça a programação do seminário
Próximo Texto: Marcos Palmeira exibe seu filme em Barretos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.