São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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Bandidos e classe média travam guerra velada

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Nos primeiros dias de 1992, ao descer do táxi que me trazia do aeroporto de Cumbica, notei que havia algo de errado na minha rua. Me pareceu que os prédios estavam mais iluminados, mais vigiados.
Perguntei ao porteiro o que estava acontecendo. Ele apontou para o prédio da frente e disse: "Um rapaz e o pai dele foram executados por bandidos ali, na véspera do Natal".
Tempos depois, ouvi dona Regina, mãe do rapaz em questão -que fora rendido na porta de uma churrascaria e levado para casa, onde seria assassinado junto com o pai-, dizer em um programa de TV que, quando os assassinos, garotos da idade de seu filho, foram levados a julgamento, eles se viraram para ela, na cara do juiz, e caíram na gargalhada.
Os animais que mataram por esporte, na sexta, dois jovens no bar Bodega, assim como aqueles que executaram outro garoto no dia seguinte, na porta da casa da namorada, são veneno sem antídoto.
Nenhum presídio modelo, desses que a gente só vê em filme, porque aqui não existem, recuperaria répteis dessa natureza para o convívio social.
E a vontade que qualquer pessoa normal tem é de enfiar o cano do revólver na boca dessa sub-raça e mandar ver.
Mas adianta? Não. Gastar munição para fazer um favor a essa canalha retirando-a da face da Terra não iria diminuir o nível da crueldade dos crimes que andam sendo praticados no país.
Desconfio que chegamos finalmente a um beco sem saída, a um estado velado de guerra. Nós contra eles. E que, em um futuro próximo, a retaliação da classe média será atirar bombas e dar tiros de bazuca contra os barracos onde o inimigo supostamente se esconde.
Os pais dos meninos mortos no fim-de-semana andaram responsabilizando d. Paulo Evaristo Arns e outros defensores dos direitos humanos pelo assassinato dos filhos.
Dá para entender a revolta deles. Mas, por mais que certas atitudes da Igreja Católica me causem espécie, não posso concordar. Essa guerra que está às portas, entre uma apavorada classe média e revoltados patológicos de baixa ou nenhuma renda, só irá piorar a cada retaliação violenta.
A única coisa que se pode exigir é que a polícia e a lei cumpram o seu dever e façam com que essa canalha apodreça atrás das grades.

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