São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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Sonia Braga volta a ser Sonia Braga em "Tieta"

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A estréia de "Tieta do Agreste", o filme de Cacá Diegues baseado na obra de Jorge Amado, representa uma terceira onda para a atriz Sonia Braga, cuja vida e carreira são indissociáveis dos personagens criados pelo escritor.
"Interpretar Jorge Amado é algo natural. Outras atrizes podem e devem fazê-lo, mas para mim os papéis fluem e combinam com os momentos da minha vida", disse Sonia anteontem à Folha.
A atriz estava ansiosa para ver o filme pela primeira vez. A pré-estréia para convidados estava marcada para as 20h de ontem, no teatro Castro Alves, em Salvador.
A primeira onda de Jorge Amado na trajetória de Sonia Braga aconteceu quando a atriz, aos 24 anos, foi escolhida para interpretar Gabriela na novela da TV Globo.
Até então, Sonia só era chamada para interpretar personagens "feios e tristes", palavras suas. "Gabriela" foi um maremoto de sensualidade. "A novela mudou o padrão de beleza da mulher brasileira", diz Sonia. "Graças a Jorge, o tipo pele morena, cabelos negros ondulados, ancas largas passou a ser considerado bonito."
Em seguida, veio "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Bruno Barreto. "Era um filme safado, que combinava com um momento em que começava a sentir vontade de ficar com uma só pessoa, mas não queria perder minha liberdade sexual", lembra a atriz.
Ao passear em pleno Pelourinho de braços dados com os dois maridos, o sizudo Mauro Mendonça de terno escuro e o sorridente José Wilker nu em pêlo, a onda Braga jogou areia na fachada de bons costumes existente no país.
Anos se passaram -"Quantos não sei, conto minha vida em personagens e amores"-, Sonia mudou-se para os Estados Unidos, onde vive um "exílio cultural".
"Adoraria trabalhar no Brasil mas exijo qualidade e salário. Ainda não me deram as duas coisas", conta. Para ela, os atores brasileiros ganham pouco: "Meio minuto de comercial dá pra pagar todo o elenco de uma novela".
Aproxima-se agora a terceira onda, que, a julgar pela equipe envolvida, tem tudo para varrer o país.
A co-autoria do roteiro de "Tieta" é de João Ubaldo Ribeiro; no elenco estão Marília Pêra, Cláudia Abreu e o próprio Jorge Amado como narrador; Caetano Veloso compôs a trilha sonora, Gal Costa a cantou; os figurinos são assinados por Ocimar Versolato.
Mais uma vez, o personagem parece combinar-se com a vida de Sonia. Assim como a personagem Tieta, a atriz está com vontade de voltar para o Brasil.
"Gostaria de viver aqui, na Bahia", diz a atriz. Quando pela primeira vez manifestou esse desejo, na época de "Dona Flor", Jorge Amado disse a ela que tinha que trabalhar pelo cinema do Brasil.

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