São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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Franceses aderem a protesto de ilegais

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

Dez franceses vão se juntar aos dez africanos que fazem greve de fome há 40 dias na igreja Saint-Bernard, em Paris, para pressionar o governo francês a regularizar a situação dos 300 africanos "sans-papiers" ("sem-documentos"). Há cinco meses eles exigem a concessão de vistos de permanência na França.
Mas a greve de fome dos franceses será diferente. A cada dia, dez franceses ficarão em jejum na igreja, ao lado dos grevistas.
No dia seguinte eles serão substituídos por outros dez. A medida foi decidida no dia seguinte à invasão da igreja por policiais que retiraram os grevistas à força.
A polícia disse que a invasão e retirada à força dos dez africanos às 6h foi uma ação "humanitária".
Os grevistas foram levados para seis hospitais diferentes -para evitar a concentração- e liberados no mesmo dia após pressões de ONGs, centrais sindicais e partidos políticos de esquerda, que pediram ao governo para reabrir as negociações.
Os grevistas se recusaram a se alimentar nos hospitais e continuam a greve de fome.
Segundo os médicos que acompanham o grupo, a partir de agora o estado dos grevistas tende a se agravar rapidamente e pode causar sequelas irreversíveis.
Na igreja, eles ficam separados do restante dos "sem-documentos" por divisórias improvisadas.
Eles passam o dia deitados. O acesso a eles é restrito. Duas ou três vezes por dia eles são examinados por médicos.
'Chantagem'
Um dirigente do RPR (Reunião Pela República, do presidente Jacques Chirac), Patrick Stefanini, classificou ontem a greve de fome de "uma chantagem inadmissível".
A declaração causou o temor de um novo ato violento por parte das autoridades.
"Tenho medo de que eles resolvam invadir a igreja de novo", disse o malinês Youssouf Tounkara, um porta-voz do grupo.
O endurecimento do governo havia sido prometido pelo ministro do Interior, Jean-Louis Debré, na semana passada, que disse que seria firme com imigrantes -a cada ano, entre 80 mil e 120 mil estrangeiros se instalam na França.
O padre da igreja Saint-Bernard, Henri Coinde, 64, diz que a situação é desesperadora, principalmente por causa do estágio da greve de fome.
"O governo não deixará que as pessoas morram dentro da igreja. Eles vão hospitalizá-los à força", acredita ele, que diz rezar para que as negociações entre manifestantes e o governo sejam reabertas.
No dia 21, está prevista uma grande manifestação para pressionar o governo.

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