São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996
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Omissão de socorro derruba ministro

DANIELA FALCÃO
MARTA SALOMON

DANIELA FALCÃO; MARTA SALOMON; AUGUSTO GAZIR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Odacir Klein, dos Transportes, pede demissão por estar com filho em atropelamento; é o 7º a sair do governo

O atropelamento do operário Elias Barboza de Oliveira levou o ministro Odacir Klein (Transportes) a pedir demissão do cargo ontem à tarde, durante encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ministério permanecerá com o PMDB. Um dos nomes cogitados ontem durante reunião de FHC com dirigentes do partido é o do senador José Fogaça (RS).
Antes de Klein anunciar a demissão, sua permanência no cargo já era considerada insustentável pelo Palácio do Planalto e por aliados do governo.
A omissão de socorro e o fato de o filho do ministro não ter se apresentado voluntariamente à polícia foram a gota d'água.
Decisão
Ao anunciar sua demissão, no início da noite, Klein disse que a decisão era irrevogável. Ele ficará no cargo até que FHC escolha o novo ministro.
"Se for necessário, ficarei cinco, dez dias." A carta de demissão só será entregue hoje.
O destino de Klein foi selado durante reunião no Palácio da Alvorada que teve participação do líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP), do ministro Nelson Jobim (Justiça) e do governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (RS).
Temer afirmou que os participantes do encontro fizeram um "apelo" a Klein para que ele continuasse no cargo.
"O ministro Odacir tem um passado que o recomenda para o futuro", disse Temer. O futuro de Klein é voltar à Câmara, onde tem mais dois anos e meio de mandato como deputado federal.
Sem condições morais
Klein afirmou que estava deixando o ministério porque havia sido convidado para "ajudar e não para desgastar o governo".
Ele é o sétimo ministro a deixar o governo desde que FHC tomou posse, em janeiro de 1995.
Em entrevista, na qual foi aplaudido por funcionários do ministério, Klein disse que decidiu pedir demissão depois da repercussão na imprensa do acidente.
"Passei a ouvir ponderações da imprensa no sentido de que eu não teria mais condições morais de continuar ministro em função do acidente e cheguei à conclusão de que a minha permanência como titular do Ministério dos Transportes iria ocasionar desgastes ao governo", afirmou ele.
Desde que FHC delegou ao próprio ministro a decisão sobre a permanência no cargo, Klein ainda hesitou. Durante toda a manhã, insistia em continuar.
Klein chegou ao ministério cedo, por volta das 7h30. Recebeu visitas de solidariedade do governador de Santa Catarina, Paulo Afonso (PMDB), e do deputado Luís Henrique (PMDB-SC), ex-presidente do partido.
Segundo a Folha apurou, além da má repercussão causada pela omissão de socorro, o ministro avaliou que sua permanência era inviável porque faltou apoio efetivo do Palácio do Planalto.
Esclarecimento
Klein afirmou que vai se empenhar para que as circunstâncias do atropelamento fiquem devidamente esclarecidas. Ele disse que só debaterá sobre os detalhes do acidente com a polícia.
O ministro demissionário disse que quer seu filho seja julgado com rigor, mas sem emocionalismo. "Vou lutar para que a polícia e o Judiciário julguem com toda a correção o ocorrido, sem emocionalismo ou sensacionalismo."
Klein disse que admite que um ministro seja exposto à execração pública. "Mas não permitirei que façam isso com meu filho."

Colaborou AUGUSTO GAZIR

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