São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996
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Vale tudo

CARLOS SARLI

Outro dia, assistindo ao jogo de futebol da seleção contra a Nigéria, minha mulher, que, por força da profissão, passou a acompanhar o esporte, ficou indignada ao ver a linha de zaga brasileira se adiantando para provocar o impedimento.
Tentei explicar que fazia parte da regra e era válido. Não acredito que a convenci.
Em outro caso, na mesma Olimpíada, Robert Scheidt, competindo na classe Laser, ao queimar por duas vezes a largada, levou Ben Ainslie, único a ameaçá-lo no ouro, a segui-lo. Desclassificados, Scheidt, que declarou fazer parte de sua estratégia "atrapalhar" o britânico, ficou com a medalha.
A terceira vitória seguida de Kelly Slater no WCT aconteceu de forma decepcionante para os 80 mil norte-americanos na final do US Open. Todos esperavam um duelo de titãs em Huntington, Califórnia.
Mas o que se viu, apesar da condição favorável do mar e do excelente desempenho dos surfistas, foi uma final sem graça.
Com menos de dois minutos de bateria, na primeira onda, o californiano Shane Beschen, segundo do ranking, cometeu uma interferência, forçada por Slater. Com apenas duas notas para somar, em três possíveis, suas chances foram para o ralo.
A primeira reação foi partir para cima de Slater, dando socos na água e hostilizando o tricampeão. Em seguida, procurou surfar como em fevereiro, na Austrália, quando conseguiu, pela única vez na história da ASP, três notas dez.
A quatro minutos do fim, ao ouvir que Slater tinha mais de 20 pontos, saiu da água.
"Kelly é o melhor surfista do mundo e não precisa competir dessa maneira. Mas isso é competição, e não há nada ilegal sobre o que ele fez. Não acho que usaria a mesma estratégia", declarou Beschen, desapontado.
As regras no esporte existem para serem seguidas ou exploradas? Marra ou ética? Ambos. Parabéns, Scheidt e Slater.

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