São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 1996
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Sebastião Salgado exibe os sem-terra

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um dos eventos mais esperados da 1ª Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba é a palestra/projeção de um audiovisual de Sebastião Salgado, considerado o mais importante fotógrafo documental da atualidade.
Salgado se apresenta na próxima segunda-feira, dia 19, no teatro Ópera de Arame, com lotação para mais de 2.000 pessoas.
Na palestra, o fotógrafo vai explicar seu projeto sobre o movimento de migrações no mundo, que deverá durar até o ano 2000. A projeção que o exemplifica tem cerca de 300 fotos acompanhadas por uma trilha sonora.
Salgado, 52, em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, diz que um dos pontos mais significativos da projeção são as crianças brasileiras sem terra.
"Elas vivem acampadas nas beiras das estradas, e eu as considero tão refugiadas como os refugiados do mundo inteiro."

Folha - O sr. preparou um roteiro específico para as 2.000 pessoas que assistirão a sua apresentação?
Sebastião Salgado - Não me lembro de ter feito palestras para auditórios desse porte. Em Harvard, na Business School, fiz apresentação para 850 alunos. Para Curitiba não tenho nada esquematizado, por isso a apresentação deve ser espontânea.
Folha - Quais são as questões que o sr. pretende propor?
Salgado - Na mesma situação das crianças brasileiras sem terra, entram as crianças dos campos de refugiados da Indonésia, incluindo também os refugiados da Bósnia, Sérvia e Croácia. Em outra série, focalizo a questão da urbanização do Vietnã, em Saigon, e o deslocamento dos refugiados russos, basicamente judeus russos, abandonando a ex-União Soviética rumo aos EUA.
Em seguida, entro na África, a parte do Sudão, a situação dos refugiados de Ruanda dirigindo-se para Tanzânia e para o Zaire. A apresentação termina com uma série de retratos de crianças do sul do Sudão.
Folha - Existe algum trabalho inédito que o sr. vai mostrar?
Salgado - Minha coleção dos trabalhadores sem terra tem cerca de 150 fotos, entre eles retratos, um trabalho à parte, especial, que ainda não foi publicado, mas está incluído na projeção.
Folha - Qual a importância da Bienal de Curitiba em relação aos outros movimentos da fotografia, como o "Mois de la Photo", em novembro próximo, em Paris?
Salgado - Acredito ser fundamental para a fotografia latino-americana. O evento francês é realizado em um país com 50 milhões de pessoas, enquanto no Brasil, são 160 milhões. Por outro lado, é um país onde não existe praticamente nada de fotografia. Na realidade, não existe nada na América Latina. Pode ter um acontecimento na Argentina ou no Equador, mas acaba não tendo sequência.
Em um país de imagens, como é o nosso, a Bienal traz uma contribuição cultural incrível. Por esse motivo, espero que ela possa ter continuidade, dentro da mesma ótica, que orientou sua criação.

Evento: Palestra e projeção de slides de Sebastião Salgado
Onde: teatro Ópera de Arame (r. João Gava, s/nº, tel. 041/354-2662, Pilarzinho)
Quando: segunda-feira, dia 19, às 20h
Quanto: entrada franca

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