São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Sergiu Celibidache morre aos 84 anos
JOÃO BATISTA NATALI
Seus problemas cardíacos se agravaram, no ano passado, com uma fratura no fêmur. A morte ocorreu na quarta-feira, mas só ontem foi tornada pública. Ele será sepultado, hoje, na França. Romeno e naturalizado alemão, Celibidache acreditava existir uma nítida distinção entre a "verdadeira música", executada ao vivo, em concertos, e a versão a que se tem acesso por meio de gravações. O disco, a seu ver, pasteuriza o som produzido por cada instrumento da orquestra e produz uma realidade estética artificial. Coerente, o maestro gravou pouquíssimas vezes e com muita relutância. Entre os grandes desta segunda metade do século -Furtwãngler, Boulez ou Solti- foi ele quem infelizmente produziu a menor discografia. Celibidache, que esteve no Brasil em 1993, com sua orquestra de Munique (que dirigia desde 1979), concebia o sinfonismo como a lenta interconexão de interpretações individuais. Um regente, segundo ele, deveria possuir a liderança -e não apenas a autoridade institucional- para fazer com que cada instrumentista aderisse à concepção global de determinada partitura. O resultado, raramente atingido por outros maestros, é a emergência de sons que o ouvinte mistura no processo de percepção, como se tivessem sido produzidos em locais diferentes. Sinfonias como a "Oitava" de Brckner ou a "Sexta" de Beethoven dificilmente serão um dia interpretadas por outros maestros com o mesmo personalismo, sofrimento e perfeição. Celibidache deverá passar para a história da música sinfônica como um oposto quase perfeito do austríaco Herbert von Karajan (1908-1989), para quem o registro eletrônico dos sons era ao mesmo tempo um objetivo e uma prova da competência dos intérpretes. Ambos disputaram, nos anos 50, a sucessão de Wilhem Furtwãngler (1886-1954) como titular da prestigiosa Filarmônica de Berlim. Karajan levou a melhor e entrou mais rapidamente para o "star system", enquanto a genialidade de Celibidache se deixava conhecer apenas entre os iniciados. Celibidache se formou em filosofia e matemática pela Universidade de Bucareste. Transfere-se para Berlim em 1936, completa seus estudos musicais e, aos 33 anos, passa a dirigir a filarmônica da cidade. Furtwãngler, com o final da Segunda Guerra, tinha sido proibido de se apresentar por ter sido propagandista do nazismo. Celibidache é convidado para reger na Inglaterra, Itália e em outras cidades alemãs. Adquire a reputação de mal-humorado, intratável, inimigo de concessões menores. Titular da Orquestra Sinfônica da Rádio de Estocolmo (1962-1971), coloca a Suécia no mapa do sinfonismo europeu. Em 1973, inicia um período de dois anos junto à Orquestra Nacional da França, que se tornou a única do país que poderia se exibir em teatros alemães, sem o risco de passar vergonha. Texto Anterior: 'Stomp' é superficial e envolvente como um comercial Próximo Texto: Irvine Welsh explica seu 'Trainspotting' Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |