São Paulo, sábado, 17 de agosto de 1996
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Garoto de 15 anos diz que atirou em amigo sem querer

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante D.G.B., 15, que baleou na noite de quarta-feira seu colega Édson Bastos da Silva, 15, dentro de uma sala de aula da Escola Estadual Presidente Roosevelt, na Liberdade (região central de São Paulo), afirmou que o tiro foi acidental.
"Eu não pretendia atirar, mas apenas fazer uma brincadeira", disse o garoto em entrevista exclusiva à Folha.
O tiro acertou a boca de Édson, que teve vários dentes quebrados e ainda está com a bala alojada no lado direito do rosto. Ele recebeu alta na quinta-feira do Hospital do Servidor Público Municipal e deve fazer uma cirurgia para retirar a cápsula nas próximas semanas.
Ontem, ele foi com sua mãe prestar depoimento no 5º Distrito Policial, na Aclimação. "Nunca vou esquecer daquela cena em que o maluco mostrou o tambor do revólver com uma bala dentro, girou e disparou", disse Édson.
D.G.B. nega ter premeditado o disparo e afirmou ter segurado uma arma pela primeira vez em sua vida naquela noite.
Para o delegado Nélson de Camargo Rosa, 37, que vai repassar as informações do caso ao SOS Criança, uma das questões mais importantes é saber de quem era a arma.
D.G.B. deve prestar depoimento à polícia na próxima semana, mas afirmou à Folha, na tarde de ontem, que foi um "conhecido" da escola que emprestou o revólver.
"Me arrependo muito de ter aceitado", disse durante a entrevista, concedida na sala de sua casa, no bairro da Bela Vista, onde mora com a mãe e dois irmãos. Leia abaixo os principais trechos:
Folha - Por que você atirou no Édson?
D.G.B. - Era só uma brincadeira. Não queria atirar, mas fui colocar a arma na cintura e o tiro saiu.
Folha - Qual era a brincadeira?
D.G.B. - Eu, o Buiu e outro cara aproveitamos a aula vaga e chamamos o Édson para dentro da classe. Só queríamos tirar um sarro no Gordo (apelido de Édson) e mandamos ele tirar a blusa. Daí, avisaram que a professora estava chegando, fiquei assustado e o tiro saiu sem querer. Quando ouvi o barulhão, fugi correndo.
Folha - Você sabia que a arma estava carregada?
D.G.B. - Quando eu peguei o revólver, eu tirei as cinco balas e coloquei no bolso. Achei que não havia mais nenhuma bala.
Folha - De quem era a arma?
D.G.B. - Foi um cara que estuda no colegial que pediu para que eu segurasse a arma por uns minutos. Eu não o conheço bem.
Folha - Qual era o tipo do revólver? Você guardou quando fugiu?
D.G.B. - Não sei qual era o calibre porque nunca havia tocado em um revólver. Quando fugi, joguei a arma e as balas de um viaduto na avenida 23 de Maio.
Folha - Para onde você fugiu?
D.G.B. - Fui de ônibus para a casa de minha madrinha, em Guarulhos. Passei uma noite horrível. Tinha visões do Édson me dando um tiro à queima-roupa.

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