São Paulo, sábado, 17 de agosto de 1996
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Consequência de uma conjuntura

CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA

O desemprego não é uma causa, é uma consequência das dificuldades por que passa atualmente a indústria brasileira. Portanto o emprego e a empresa que se vê obrigada a demitir, muitas vezes porque também é obrigada a fechar suas portas, são vítimas de uma conjuntura que tende a se agravar e, aí sim, a ameaçar não apenas a estabilidade econômica, mas também a estabilidade social do país.
O que coloca em risco a estabilidade econômica é uma série de fatores que oneram a produção na iniciativa privada e cavam fundo o buraco das contas públicas. Por isso o país precisa de uma reforma do Estado e da Previdência que elimine os privilégios, dê espaço ao ajuste fiscal e permita aos governos os investimentos básicos na área social.
Mais urgente ainda é a realização de uma reforma tributária ampla e duradoura no sentido de varrer da vida das empresas e dos cidadãos um sistema de cobrança de impostos injusto e absurdo, porque desigual e imprevisível. Só no ano de 95, houve 521 alterações na legislação tributária brasileira. Temos impostos demais, em cascata, e base tributária de menos. O Brasil é uma raridade entre os países do mundo em desenvolvimento, pois onera as exportações e cobra mais imposto da produção do que da renda.
Falta emprego porque falta investimento. Falta investimento porque o governo deve muito e gasta mal; porque os juros são altos, a privatização anda a passos de tartaruga, e a abertura econômica foi assumida pelo país sem qualquer preparação ou conhecimento das normas do comércio internacional. Apenas no setor têxtil, a volúpia da globalização liquidou com cerca de 700 mil empregos, em seis anos.
A indústria brasileira tem reafirmado que a abertura comercial é irreversível e necessária. Mas deve ser conduzida com inteligência, como fazem os países mais desenvolvidos. O Japão e a Coréia, paradigmas de sucesso numa economia globalizada, têm índices de protecionismo mais altos que o Brasil.
O desemprego não é um problema brasileiro. É mundial e já está desmistificando até mesmo o Japão como o eldorado do pleno emprego. Mas, neste aspecto, nós possuímos vantagens comparativas em relação aos países de economia mais madura. Temos ainda muito espaço para novos investimentos por meio das privatizações e em obras de infra-estrutura, por exemplo.
Mais do que isso, temos enorme espaço para reduzir o "custo Brasil" e modernizar nossas instituições, com as reformas estruturais, em busca do desenvolvimento sustentado. Esse é o caminho para resolver a questão do emprego. Até porque o desemprego na indústria não é uma ameaça à estabilidade econômica. O desemprego é uma ameaça à estabilidade social.

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