São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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'Tara' por chocolate atinge os homens

ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Tenho chocolate no carro, em casa, no trabalho. Acordo à noite para comer chocolate. Não consigo dormir sem um verdadeiro arsenal por perto."
Vinda de uma mulher, essa declaração não causaria espanto. Mas a "chocolatria" é um vício que também atinge os homens.
O relações-públicas Plínio Ferraz, 36, autor do depoimento acima, é um "chocólatra" assumido. "Sempre fui assim", diz. "Sou do tipo que come uma saladinha e três sobremesas."
Mas Ferraz afirma não ter problema com a mania. "Tenho que fazer uma hora e meia de ginástica por dia, mas malho numa boa. Até levo um chocolatinho para comer entre a natação e a corrida."
Para o endocrinologista Alfredo Halpern, professor da Faculdade de Medicina da USP, o desejo descontrolado por chocolate não é "apenas frescura".
"Chamamos isso de 'sugar craving', que é uma compulsão por doce. Pensava-se que era causada por carência, falta de sexo, distúrbios familiares. Mas, com a evolução da neuro-endocrinologia, descobriu-se que isso pode ser causado por alterações químicas no cérebro", explica Halpern.
Esse distúrbio tende a piorar agora, no inverno. "A ânsia por doce ataca mais no frio e no período do dia que vai do final da tarde à noite, quando cerca de 70% dos compulsivos 'atacam' a geladeira."
Halpern ressalta que o "vício" por si só não é prejudicial. "Se a pessoa é magra, não tem diabetes, nem colesterol, deve aproveitar essa dádiva de Deus e comer muito chocolate."
Paulo Galvão, 38, marchand, diz que seu "vício" apareceu quando ele começou a trabalhar.
"Eu trabalhava e estudava, e não tinha tempo para comer. Por dez anos, me alimentei quase só de chocolate, pipoca e café. Foi péssimo, engordei pra burro. Hoje, como direito, emagreci, mas a vontade do chocolate ficou."
Segundo o "quituteiro" Toninho Mariutti, 41, raspar a panela de brigadeiro é um dos maiores prazeres da vida.
"No fundo, sou um grande guloso. Queria ser clean, comer um bombom e só comer outro dois dias depois, mas como a caixa de uma vez. Tenho ciúmes de chocolate, não divido com ninguém."
Mariutti acredita que o chocolate tem um efeito tranquilizador: "Ele me deixa mais calmo".
Trabalhar com cacau foi o que levou o empresário Manfred Wefers, 37, ao "vício".
"Não há a menor dúvida de que sou um 'chocólatra'. Trabalhei dez anos no ramo, então tinha que degustar. Me tornei um fanático. Mas não é uma necessidade, é prazer."

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