São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiros têm "um Sergipe" no exterior

BRUNO BLECHER; JOSÉ MASCHIO; CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

Agricultores e pecuaristas brasileiros que atravessaram as fronteiras nos últimos 25 anos já são donos de pelo menos 2 milhões de ha nos países vizinhos (Bolívia, Paraguai e Uruguai), área equivalente ao Estado de Sergipe.
No Paraguai, onde a primeira leva de emigrantes chegou na década de 70, os brasileiros dominam hoje a produção de grãos, colhendo cerca de 70% da safra de soja.
Na Bolívia, a presença brasileira é mais recente e está concentrada em Santa Cruz de La Sierra.
Entre 1993 e 1995, segundo cálculos da Associação Nacional de Produtores de Oleaginosas e Trigo (Anapo), os produtores brasileiros compraram cerca de 350 mil ha na região de Santa Cruz de La Sierra.
Hoje, os brasileiros detêm cerca de 500 mil ha na região e são responsáveis por 20% da safra boliviana de soja.
No Uruguai, quase a metade da safra 95/96 de arroz, de 800 mil t, foi produzida pelos brasileiros.
O perfil dos agricultores que cruzaram a fronteira varia.
Há desde pequenos e médios agricultores, que acumularam dívidas no Brasil e resolveram tentar a sorte no exílio, até grandes empresários rurais, como os gaúchos Sérgio Marchetti (na Bolívia) e Érico Ribeiro (no Uruguai), atraídos pela oportunidade de expandir seus negócios.
A maioria deles cita como vantagens a terra mais barata, custos de produção inferiores aos do Brasil e facilidades para a compra de máquinas e implementos agrícolas.
"Se estivesse no Brasil, eu seria um bóia-fria, aqui sou cidadão", disse à Folha o produtor Ivo Burato, 32, dono de 60,5 ha em Hernandarias, no Paraguai.
Natural de Cafelândia (PR), ele chegou ao Paraguai há dez anos e nunca teve problemas para obter crédito nos bancos.
A expansão brasileira preocupa os países vizinhos.
Sindicatos de trabalhadores rurais da Bolívia manifestaram no ano passado seu repúdio à "invasão pacífica" dos brasileiros, classificando-a como "um movimento expansionista de uma classe dominante, destinado a despojar o país de amplos territórios."
Já os arrozeiros uruguaios estão preocupados com a elevação dos custos de produção, devido à concorrência dos brasileiros.
(BRUNO BLECHER, JOSÉ MASCHIO e CARLOS ALBERTO DE SOUZA)

LEIA MAIS sobre agricultores nos países vizinhos nas págs. 2-14 e 2-15

Texto Anterior: As vantagens em cada país
Próximo Texto: Sem cabo eleitoral; Na expectativa; Aposta anterior; No palanque; Linha de resistência; Em compensação; Mais cautela; Luz no túnel; No limite; Comida rápida; Fazendo bem; Base de sustentação; Outra gerência; A três mãos; No vermelho; No azul; Nova versão; Tirando sono; Sem atropelos; Exigência descabida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.