São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Corinthians vendeu um espírito mosqueteiro

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

No duro, no duro, a saída de Zé Elias não vai causar nenhum estrago maior na maneira de o Corinthians jogar.
Afinal, meia defensivo de contenção é que nem tiririca (tesconjuro!) no futebol brasileiro -brota em qualquer metro quadrado de grama por esse mundão afora. É o que mais dá.
Por isso mesmo, desconfio que a nova mania de três volantes é menos uma opção tática e muito mais fruto da lei da oferta e da procura.
Esse menino Gilmar mesmo, acurando um pouco o passe, cumprirá bem seu papel no time. No caso de Zé Elias, porém, a história é outra.
Não foi apenas a rendição do Corinthians e do jogador a uma oferta irrecusável, dessas que acontecem uma vez na vida, outra na morte. Foi a venda de um símbolo, um bem inestimável na vida como no futebol. Pois, somados os custos de três ou quatro desses cabeças de bagre que passaram anonimamente pelo clube nos últimos tempos, chegaríamos às cifras desta transação.
Zé Elias, além de craque, era a jovem reencarnação do espírito mosqueteiro, aquele que tem mantido de pé o carisma único desse clube único na história do nosso futebol, mesmo -ou sobretudo- quando o Parque está envolto em densas névoas como agora.
E alma não se vende.
*
O São Paulo volta hoje a campo meio cabisbaixo com a perda do título da Copa Ouro, sexta à noite. Afinal, ainda outro dia, esse mesmo tricolor, diante do mesmo Flamengo, levantava outra Copa, a dos Campeões do Mundo. Más línguas diriam que a diferença estava no banco tricolor: ganhou com Muricy, perdeu com Parreira.
Se levarmos em conta que Parreira resolveu poupar meio time titular, até que se pode jogar-lhe no colo boa parte da culpa pela derrota.
Mas, na realidade, a diferença teve um nome: Sávio, ausente na decisão anterior e soberano na vitória de anteontem, como artilheiro da noite.
Mesmo assim, o São Paulo deixou, na derrota, uma esperança: os reservas estão à altura dos titulares. Tanto que o jogo foi parelho, até que Sávio disparasse dois contragolpes irresistíveis. Logo, só resta levantar a cabeça e enfrentar o Bahia, olhos nos olhos.
*
Fez bem Zagallo em não convocar agora o meia Rivaldo. E a entrevista que o jogador concedeu ao companheiro Alexandre Gimenez, nesta Folha, é a maior peça de absolvição do técnico e a clara evidência do que aconteceu com o craque na Olimpíada: desestabilizou-se, momentaneamente, com a transferência para a Espanha.
Aliás, como eu supunha: é a mulher buzinando no ouvido aqui, a sogra chorando ali, os amigos palpitando além, enfim, um pequeno inferno pelo qual passam quase todos os jogadores de seu estrato.
Há que se dar tempo para o moço se recompor emocionalmente, pois bola ele sabe jogar como ninguém.
Só não entendi bem as chamadas de Beto, Donizete e Sérgio Manoel, absolutamente dispensáveis. Quanto a Mauro Silva, é hora mesmo de sabermos como anda nosso volante de ferro.

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