São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Revolução francesa

SÍLVIO LANCELLOTTI

Às vésperas de organizar a última Copa do Mundo do século, a França presencia o maior esvaziamento interno do seu futebol em cinco décadas.
Um número de fato impressionante preocupa os seus cartolas. Das 72 transferências principais que comandaram o seu mercado no verão europeu, a França perdeu 25 personagens para os clubes de outras nações.
A Espanha levou nove deles, do treinador Luiz Fernandez (Athletic Bilbao) ao líbero Laurent Blanc (Barcelona). A Itália, oito, do armador Zine Zidane (Juventus) ao defensor Lilian Thuram (Parma).
O fenômeno causa mais impacto ainda quando se considera o passado recente do futebol da França, um vigoroso importador de craques. Para a temporada 1996/97, a França se reforçou pouquíssimo. De nomes famosos, apenas o brasileiro Leonardo (Paris SG) e o volante búlgaro Lechkov (Marselha).
Que me perdoem os arqueiros -não posso incluir na lista Andreas Koepke, também contratado pelo Marselha. Sinto. Ninguém vai a um estádio de futebol exclusivamente para ver um grande goleiro jogar.
Do ponto de vista estritamente financeiro, claro, a França não pode se queixar. No balanço de entradas e saídas, teve um lucro ao redor de US$ 100 milhões. Não precisa dessa grana para organizar a Copa, porém.
A crise se reflete na seleção nacional. O fracasso da última Euro fez fermentarem muitas pressões contra o treinador Aymé Jacquet, que já ameaçou se demitir duas vezes e dificilmente resistirá até 98.
Em Atlanta, num dos corredores do IBC, cruzei com Michel Platini e lhe pedi uma análise do problema. "Temo que o êxodo não seja apenas consequência do Caso Bosman", observou o ex-craque e co-presidente do Comitê Organizador da Copa.
"Nos próximos dois anos, nós teremos de reverter essa situação para que o Mundial seja o mais forte possível."

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