São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Nova técnica cirúrgica afina voz de transexual masculino

IGOR GIELOW
DE LONDRES

Uma nova técnica cirúrgica promete resolver um dos problemas que mais afligem os transexuais masculinos: a voz grossa.
Desenvolvida em Berlim, na Alemanha, a técnica funcionou em 90% dos casos documentados.
A operação é delicada. Consiste em aumentar o ângulo entre as pregas (cordas) vocais e encurtá-las, afinando assim a voz.
Isso ocorre porque a voz é formada quando o ar passa pelas cordas vocais, fazendo-as vibrar. Quanto menor a prega, mais agudo é som oriundo da vibração.
Cicatriz
Em 1982, médicos norte-americanos desenvolveram uma técnica para reduzir o comprimento das cordas vocais.
"Porém o método implicava numa cirurgia muito invasiva, que deixava uma cicatriz horrível e era de difícil recuperação", disse à Folha Manfred Gross, 45, médico da Freie Universität de Berlim.
A solução encontrada por Gross e sua equipe foi uma cirurgia interna, que não corta a garganta do paciente.
A lógica é a mesma de uma laringoscopia, exame no qual uma fibra óptica examina a laringe.
Além das fibras para o exame, são usados microbisturis. "O trauma é muito menor."
Primeiro, raspa-se o epitélio (camada superficial) dos dois segmentos mais internos das duas seções de cordas vocais. Depois, é dado um ponto unindo os dois segmentos. As partes raspadas se unem na cicatrização.
Menor, com cerca de um terço do seu comprimento normal, as cordas vibram mais rápido, afinando assim a voz.
A cirurgia demora cerca de duas horas, com o paciente sob anestesia geral. A internação leva, em média, uma semana.
Cigarro
Aí começa a parte mais difícil do processo, que começou a ser implantado há dois anos por Gross e seu colega Markus Hess, também da Freie Universität.
"O tempo total para que a voz esteja normalizada pode chegar a seis meses", disse Gross.
"E as regras são rígidas. Nada de fumo, álcool ou quebra nas terapias de voz". Senão, caso perdido.
Foi o que ocorreu com um dos 20 pacientes operados de 1994 para cá. "Infelizmente, ele fumou e falou no telefone com amigos no dia seguinte à cirurgia", disse o médico, que está na Freie Universität há sete anos, no Departamento de Foniatria.
O caso foi reportado no primeiro trabalho sobre a técnica, apresentado por Gross e Hess no começo de junho no 25º congresso da "The Voice Foundation", em Filadélfia (EUA).
A "The Voice Foundation" é a mais importante fundação do mundo na área.
Nos primeiros estágios da recuperação, o paciente tem de evitar emitir qualquer som.
Em poucas semanas, pode estar falando -porém, com "altos e baixos" em sua voz, porque as cordas vocais ainda estão se adaptando à nova situação.
Sessões de terapia fonoaudiológica são essenciais para ajustar os novos padrões de voz das cordas vocais.
Riscos
Podem ocorrer imprevistos. Há possibilidade de a mudança na voz ser imperfeita por problemas de cicatrização, por exemplo.
Por isso, o paciente assina um termo de compromisso antes da cirurgia, afirmando estar ciente dos riscos.
O procedimento todo é caro (US$ 10 mil no total) e depende de muito trabalho do paciente -que, se for alemão, só pode ser operado com autorização especial da Justiça (leia texto ao lado).
"Mas, para quem acha que isso é uma necessidade psicológica, é melhor que os métodos antigos", disse Gross.

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