São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Gramado consagra "Pixote" e "Anjos"

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

O drama "Quem Matou Pixote?", de José Joffily, e o policial "Como Nascem Os Anjos", de Murilo Salles, foram os grandes vencedores da disputa de longas brasileiros reestabelecida no 24º Festival de Gramado, encerrado na madrugada de ontem.
Baseado na história real de Fernando Ramos da Silva, "Quem Matou Pixote?" levou sete kikitos, incluindo os de melhor filme do júri e do público.
"Como Nascem Os Anjos" ganhou seis, destacando-se os de melhor filme da crítica, melhor diretor e o Prêmio Especial do Júri para seus jovens protagonistas, Priscila Assum e Sílvio Guindani.
A concentração dos prêmios fez justiça aos dois principais inéditos nacionais de Gramado-96. A nota curiosa foi o empate dos filmes de Joffily e Salles em duas categorias técnicas (foto e música).
O júri nacional dividiu ainda um terceiro prêmio, entre os atores Chico Diaz ("Corisco e Dadá") e Cassiano Carneiro ("Quem Matou Pixote?").
Prêmio cubano
Nada mais justo do que a consagração do cubano "Guantanamera", de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío, na competição latina. A deliciosa comédia que devassa a Cuba do chamado "período especial" foi eleita melhor filme por júri e crítica, levando ainda o prêmio de ator (Carlos Cruz).
O critério central para os kikitos da categoria, exceção feita ao prêmio principal, parece ter sido a presença física dos contemplados. Fora o autor da melhor trilha (Antonio Pinho Vargas, do luso "Cinco Dias, Cinco Noites"), todos vencedores de prêmios secundários vieram à serra gaúcha.
O festival confirmou-se como um evento de transição. No âmbito nacional, não resgatou o perfil de principal mostra dedicada à produção brasileira; no internacional, ao insistir no caráter latino, permanece uma mostra de reduzida importância.
Gramado-96 não soube utilizar seu peso político para catalisar a finalização de novos títulos que garantissem uma forte disputa brasileira. Quase passivamente, contentou-se em abrigar seis filmes, sendo apenas três inéditos.
A força de Gramado é proporcional à pujança de sua competição brasileira. A face internacional é importante mas secundária. Isso tudo se a prioridade é cinema, e não turismo, lã, couro ou chocolate. A retomada da produção nacional foi um cavalo que Gramado não soube montar.

O crítico Amir Labaki viajou a Gramado a convite da organização do festival.

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