São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996 |
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Liceu mostra cidade do início do século
ANA MARIA GUARIGLIA
Cerca de 1.500 registros, datados entre 1875 e 1960, documentam os trabalhos feitos pelo Liceu nas fachadas dos prédios da cidade e na decoração de seus interiores. Segundo o fotógrafo Wanderley de Oliveira, 38, o achado faz parte de uma coleção de mais de 5.000 fotos. "Elas não desapareceram por negligência do Liceu, mas devido às sucessivas enchentes no local e o descaso das autoridades ao patrimônio público", diz Oliveira. A restauração das peças foi iniciada em julho, envolvendo pesquisadores e historiadores, e deve durar cerca de dois anos. Para colocar de imediato a coleção à disposição do público, o Liceu está procurando parceiros para viabilizar os projetos. Um deles é a digitalização das imagens. Com base nessa meta, já foi firmado um convênio com a Fundação Cásper Líbero para colocar o acervo na Internet. Decoração da cidade O Liceu foi uma das molas propulsoras da construção e da decoração da cidade, transformando o sombrio estilo colonial em arrojados projetos urbanísticos. No Liceu, eram projetadas desde as maçanetas de uma porta até os adornos e o acabamento das fachadas de edifícios e residências. A documentação evidencia a preocupação das novas perspectivas para a cidade a partir de 1888. O prefeito João Teodoro iniciou a largada das remodelações com a inauguração do viaduto do Chá, em 6 de novembro de 1892. A partir dessa época, o Liceu passou a ter função mais atuante, produzindo a decoração dos prédios da região central e dos bairros. Um dos principais trabalhos foi a criação do mobiliário do Teatro Municipal de São Paulo, inaugurado em setembro de 1911, que se tornou marca da movimentação industrial da cidade. Domiziano Rossi e Cláudio Rossi, autores do projeto, trabalharam mais de 30 anos com o engenheiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928). Por sua vez, Azevedo foi diretor do Liceu e incentivou a idéia da nova fisionomia urbanística. Artesanato Nas oficinas de modelagem, cerâmica e de arte em ferro, os alunos do Liceu também criaram os detalhes decorativos dos Correios e da Penitenciária Estadual. O esmero dos trabalhos é visível nos portões e grades de casas da avenida Paulista, na decoração das fachadas da antiga casa Mappin Stores, na praça Patriarca, e dos bancos Ítalo Belga e Comércio e Indústria, na rua 15 de Novembro. Oliveira está organizando uma excursão pela cidade para fotografar os mesmos locais reproduzidos na coleção inédita. "O objetivo é fazer com que o Liceu se torne novamente um produtor cultural, anseio que norteou sua criação", diz. Histórico O Liceu de Artes e Ofícios foi fundado em 1873, como "Escola Propagadora de Instrução". Inicialmente, se instalou na rua São José, (atual Líbero Badaró), oferecendo aulas noturnas de alfabetização para adultos. Em 1883, possuía uma centena de alunos, com aulas de francês, português, matemática, geografia e história. Em 1889, já com o nome de Liceu, o programa de ensino foi ampliado com cursos de música, escultura e canto. O de desenho era dado pelo pintor Almeida Júnior. A partir de 1895, a escola tomou novos rumos sob a direção de Ramos de Azevedo, que construiu a nova sede, ocupada hoje pela Pinacoteca do Estado. Foram construídos galpões para o desenvolvimento de cursos técnicos, criando artífices especializados em marcenaria e ferro. A partir de 1916, o Liceu se instalou na sede definitiva, na rua da Cantareira, no bairro da Luz, dando seqência aos cursos profissionalizantes. Victor Brecheret (1894-1955) foi o mais célebre aluno e também professor da instituição. Nos galpões da escola, esculpiu o "Monumento às Bandeiras", localizado no parque Ibirapuera, e a estátua de Duque de Caxias, na região central de São Paulo. Especificamente, no Centro Cultural, existem mais de 30 cursos de arte, destacando os de fotografia, encadernação, pintura, escultura e entalhe em madeira. (AMG) Onde encontrar - tel. 011/227-5611 Texto Anterior: Os vencedores Próximo Texto: Naná ensina música às crianças de PE Índice |
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