São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 1996 |
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Livro diagnostica medicina
JAIRO BOUER
Quem espera um livro monótono e excessivamente descritivo, se engana. O autor usa um recurso engenhoso para tornar seu texto ágil e preciso. A partir de fragmentos de textos, frases, ditados ou poemas, organizados cronologicamente, Scliar faz incursões às diversas civilizações. Em cada uma dessas viagens, o autor executa um trabalho de inserção das principais idéias, descobertas e personalidades da medicina no contexto histórico e cultural da época. O efeito é brilhante: até o mais absurdo dos diagnósticos ganha ares de verdade. A partir daí, a proposta de tratamento não assusta ninguém. O livro de Scliar mostra, que do mesmo modo que é possível entender a história da humanidade analisando seu cotidiano, também é possível compreender melhor o homem quando se olha para suas doenças e sua luta na tentativa de eliminá-las. "A Paixão Transformada" promove um desfile dos fundadores do pensamento médico e das grandes descobertas que mudaram o rumo da história. O grego Hipócrates, considerado o "pai" da medicina, que teria vivido entre 460 e 377 A.C., antevia, em seu primeiro aforismo, os caminhos que o homem enfrentaria na busca da cura para as doenças: "A vida é curta, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganadora, o julgamento difícil". Embora os avanços do conhecimento médico tenham sido avassaladores, o comportamento de alguns dos responsáveis pela cura das doenças, permaneceu quase intocado. Contaminados, talvez pela importância das suas atividades, muitos se deixaram seduzir por fantasias onipotentes e acabaram atravancando o progresso da própria ciência. Galeno, de Pérgamo, na Ásia Menor, antecipava esse comportamento: "Eu fiz pela medicina o que o imperador Trajano fez pelo Império Romano: abri estradas, construí pontes. Sou o criador único do verdadeiro método de tratar doenças. Hipócrates já havia esboçado o roteiro, mas não foi muito longe. Quem abriu o caminho para a medicina hipocrática fui eu". Ao final do livro, fica a sensação de que muito do que se faz e se acredita hoje em medicina, não vai sobreviver às descobertas dos próximos anos. O homem (e, principalmente, o médico) tem de aprender a conviver com as muitas verdades efêmeras que fazem parte dessa ciência. E para lidar com as incerteza, só mesmo com muita paixão. A paixão que pode transformar doença em saúde. Texto Anterior: Eventos Paralelos Próximo Texto: Luiz Gonzaga adota sotaque francês Índice |
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