São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 1996
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Custo São Paulo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Motivos profissionais estão me ligando cada vez mais a São Paulo. Daí, o carioca fanático já começa a se sentir meio paulistano, sobretudo no momento de indignação que a cidade está vivendo, com o crescimento da violência ceifando vidas de forma tão estúpida.
Conhecemos esse tipo de drama que agora atinge São Paulo. Tenho dito que o Rio é espécie de laboratório para os problemas nacionais, aqui são testadas as experiências, sobretudo as más: funcionamos como macacos ou coelhinhos para servir de cobaias aos traumas daquilo que costumam chamar de "civilização".
Numa hora dessas, não adianta demonizar as autoridades. No Rio, satanizaram Brizola, em São Paulo ameaçam fazer o mesmo com o cardeal Evaristo Arns. Embora em campos opostos, os dois têm uma visão social da questão e costumam alertar a sociedade contra a paranóia e a repressão selvagem.
Evidente que a visão social não pode dispensar a ação policial, que é precária e até criminosa. Bichada pela corrupção, a polícia constitui um problema dentro do problema. De qualquer forma, não há outra arma para enfrentar, em primeiro combate, o crime organizado.
As vítimas de hoje não pedem vingança. Pedem a presença do Estado na sociedade, não para determinar o que ela deve fazer ou pensar, como deve gastar ou poupar, mas para protegê-la com eficácia. O aspecto policial da questão é prioritário cronologicamente, mas não chega a ser fundamental.
Em sua essência, o furacão que assola São Paulo (e continua assolando o Rio) é formado pelas duas vertentes: a policial e a social.
A falência dos dois sistemas gerou, além da ineficácia da polícia, o alto custo que a sociedade está pagando pela concentração de renda e pelo desemprego.
São Paulo não pode nem deve parar. Mas é preferível parar um pouco do que caminhar para o inferno.

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