São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996
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Sucessor de Arns deve ter perfil menos acadêmico

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O próximo grão-chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo deve estar na faixa dos 50 anos. Integrante do grupo conservador da igreja. E com formação acadêmica inferior à do atual, d. Paulo Evaristo Arns, 74.
O provável perfil do novo cardeal de São Paulo, e por consequência novo grão-chanceler, pode ser traçado a partir do histórico das nomeações feitas pelo papa João Paulo 2º desde que assumiu em 1978.
Pela lógica das nomeações, o novo cardeal não será alguém do grupo de Arns, como d. Angélico Bernardino ou d. Celso Queiroz, bispos-auxiliares de São Paulo.
Desde que assumiu, o papa tem priorizado indicações de cardeais do grupo conservador, como d. Lucas Neves, de Salvador (BA).
Ele deve ser ainda relativamente jovem. A substituição de um cardeal nunca é tranquila. E o escolhido deve ficar muitos anos.
Se for coerente com suas nomeações, o papa não deve tornar realidade o sonho da maior parte da arquidiocese paulistana: nomear d. Luciano Mendes de Almeida.
Os que não sonham tão alto, lembram que o papa tirou Almeida da vigorosa região episcopal Belém (zona leste de São Paulo), onde era bispo auxiliar de Arns, para "premiá-lo" com a pequena diocese de Mariana (MG).
Tempo
Apesar de completar 75 anos em 14 de setembro, e ter que pedir aposentadoria pelas leis da igreja, a saída de Arns poderá demorar.
No Rio, o papa deixou o cardeal d. Eugênio de Araújo Sales no cargo até 97, para organizar um congresso sobre a "família". D. Eigênio fez 75 no ano passado.
Arns não recebeu, até agora, nenhuma "missão" como a de Sales.
Na arquidiocese paulistana, corre o boato que o papa deixaria os dois cardeais até 97, quando ele virá ao Brasil para o encontro sobre a família no Rio, e aproveitaria para anunciar os dois novos nomes.
Ainda no campo das especulações, o nome de d. Geraldo Magela, secretário da Congregação para o Culto e Sacramento do Vaticano, é considerado forte. Ele já trabalhou em São Paulo. É próximo do papa e foi convidado por ele para um cargo importante em Roma.
Magela é visto como uma solução de consenso na arquidiocese paulistana. Centrista, na religião e na política, sua nomeação não teria repercussão muito negativa.
Outro nome muito falado é o do conservador d. Fernando Figueiredo, primeiro bispo da diocese de Santo Amaro (zona sul) criada com a divisão da arquidiocese.
Avesso à política, Figueiredo é um dos maiores incentivadores no país do movimento de Renovação Carismática, que apregoa que religião não se mistura com política.
Seja qual for o substituto de Arns, não será alguém com a mesma preocupação acadêmica. Nenhum outro bispo brasileiro tem formação universitária como a dele. Além dos estudos religiosos, como teologia e filosofia, Arns é mestre em letras pela laica Sorbonne (França). E escreveu 49 livros.

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