São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996 |
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Transgressão gera monstro na primeira 'Mosca'
INÁCIO ARAUJO
Quem sentiu náuseas na terrível versão anos 80 de David Cronenberg, não terá aqui a mesma sensação. Kurt Neumann mostra o processo de transformação do cientista em inseto com delicadeza proporcional à modéstia da produção. Temos impressões diversas frente aos dois filmes. O cientista de Cronenberg desafia as leis da vida em nome da ciência e torna-se mutante. Mas a figura central é a ciência, não o homem. O cientista de Kurt Neumann, que quer ir além do humano, também é um transgressor: uma espécie de Prometeu contra quem os deuses se voltam impiedosamente, castigando-o com a metamorfose. Há duas visões opostas da ciência. Nos anos 50, ela é positiva, busca agregar conhecimento à aventura humana. Nos anos 80, ela adquire autonomia, já não parece existe para o homem. Esta ciência que é um fim em si tem o inconveniente, porém, de já não depender do homem. Ganha vôo próprio, é incontrolável. Daí o terrível, o nauseante na versão dos anos 80. São dois filmes com o mesmíssimo argumento e concepções opostas. Na pior das hipóteses servem para comprovar que um filme não é só a história que conta. Em todo caso, "A Mosca da Cabeça Branca" é um filme com muitos outros aspectos a ver. É para ver de olhos abertos. (IA) Texto Anterior: CLIPE Próximo Texto: 'Cimarron' perde força Índice |
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