São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996
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Imperador narra melancolia

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

D. Pedro 2º está em Vichy, estação de águas que, durante a 2ª Guerra Mundial, sediaria o governo francês de colaboração com os nazistas. Velho, cansado e deposto, o imperador do Brasil narra, em primeira pessoa, sua existência melancólica e contraditória.
Esse é o ponto de partida de romance "D. Pedro 2º -Memórias Imaginárias do Último Imperador", de Jean Soublin.
Soublin nasceu na França, onde estudou literatura brasileira. Morou no Brasil nos anos 60. Tem um livro publicado, um no Brasil, "O Comitê de Riscos" (Paz e Terra). Leia trechos da entrevista à Folha.
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Folha - De onde vem o interesse pelo Brasil?
Jean Soublin - Foi algo que aconteceu com aos 20 anos. Talvez esteja ligado ao fato de eu ter tido um antepassado português que enriqueceu no Brasil. Depois ele voltou para a Europa, para Paris.
Folha - Por que D. Pedro 2º?
Soublin - Há dois assuntos que me interessam muito: Brasil e século 19. É impossível cruzar os dois sem encontrar o imperador. Eu também tinha um grande interesse pela figura de Gobineau. Inicialmente, pensava em escrever um livro chamado "Gobineau e o Imperador". Descobri que o papel de Gobineau era menor do que ele se atribuía.
Folha - Por quê?
Soublin - Gobineau chegou ao Brasil com recomendações da Condessa de Barral e, por isso, foi recebido por D. Pedro 2º. O imperador gostava do aspecto mundano de Gobineau. Depois, Gobineau manifestou seu desprezo pelos mulatos, envolveu-se em incidentes e voltou à França. Por lá, ciceroneou o imperador em sua visita a Paris. Ele pedia dinheiro pelas despesas sem apresentar a fatura. O imperador não gostou. D. Pedro 2º transou com a amante do Gobineau.
Folha - Mas Gobineau influenciou o imperador?
Soublin - Não. Gobineau não gostava de mulatos. Era a favor da pureza racial. Ele via a história como um processo de degeneração, no começo tudo era bom, porque havia uma raça pura. Depois, com a mistura das raças, a humanidade se degenerou. O imperador não concordava. Tinha mulatos no governo. Simpatizava com judeus e protestantes. Acreditava que a história era um processo de progresso.
Folha - Que pesquisa fez?
Soublin - A maioria, na França. Como não fazia biografia, mas romance, não tive preocupação de ir às fontes primárias. Só queria saber mais sobre o imperador.
Folha - Descobriu alguma novidade sobre D. Pedro 2º?
Soublin - Para mim, tudo era novidade. Não descobri nenhum fato, que não fosse de conhecimento dos historiadores. Os historiadores podem divergir das minhas teorias para explicar algumas coisas, mas não dos fatos.
Folha - Qual é o D. Pedro 2º que emerge do seu livro?
Soublin - Um personagem complicado. Veja a figura do pai: há uma mistura de amor e ódio. Ele ama o pai, que o abandonou aos 5 anos e o repudia, instigado pelos que o cercam. Para não repetir o exemplo de violência e intolerância do pai, D. Pedro 2º assegura a liberdade de imprensa e é discreto com suas amantes.
Folha - Supervisionou a tradução?
Soublin - Não, porque a tradutora brasileira é excelente. Fiz pequenas observações porque, por ambientar o livro no século 19, usei o francês do século passado e queria que ele soasse assim em português.

Livro: Dom Pedro 2º - Memórias Imaginárias
Autor: Jean Soublin
Preço: R$ 22
Páginas: 307

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