São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996
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A pós-graduação no Brasil

ADOLPHO JOSÉ MELFI

No início de junho último, a imprensa deu ampla divulgação aos resultados da avaliação dos cursos de pós-graduação realizada pela Capes. O quadro apresentado parecia indicar que a pós-graduação, segmento que maior êxito alcançou dentro do nosso sistema educacional nesses últimos anos, estaria mostrando nítidos sinais de decadência.
Essa idéia, totalmente falsa, foi obtida a partir da simples comparação dos dados da avaliação do biênio 92/93 com os de 94/95. Esses dados mostram que realmente a proporção de cursos de doutorado com nível A (excelente) caiu de 56% para 51%, enquanto que os de mestrado diminuíram de 42% para 39%. Entretanto essas diferenças não representam necessariamente um indício de queda na qualidade dos cursos e não podem, de forma alguma, ser analisadas isoladamente.
A redução do número de cursos com conceito A era previsível. Muitos cursos, recém-implantados, estavam sendo avaliados pela primeira vez, e, nesses casos, é normal não obterem de início um conceito A. Em 92/93, foram avaliados 1.364 cursos de pós-graduação, enquanto que nesta última avaliação o número de cursos subiu para 1.546.
Além disso, a Capes reconhecia a necessidade de aumentar as exigências e reformular certos critérios utilizados nas avaliações anteriores, a fim de torná-la mais representativa da nossa realidade atual. Após 25 anos avaliando contínua e sistematicamente os mesmos itens, por meio dos mesmos critérios, o sistema de avaliação acabou perdendo parte de seu poder discriminatório, colocando sob o mesmo conceito cursos com desempenhos bastante diferentes.
Dados da própria Capes (F. Spagnolo, "Infocapes", bol. informativo, vol. 3, nº 1-2, 1995), analisados de maneira mais cuidadosa, indicam que os cursos de pós-graduação não estão de forma alguma diminuindo seu padrão de qualidade, mas, muito pelo contrário, vêm apresentando um desempenho crescente e trazendo uma efetiva contribuição para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
Uma série de indicadores pode ser utilizada para aquilatar o desempenho da nossa pós-graduação: evolução quantitativa de titulação de seu corpo docente (número de doutores passou de 50%, em 1980, para 87% em 1994); aumento de produtividade, medido pelo número de publicações: em 1981, os cursos de mestrado e doutorado publicaram pouco mais de 5.000 artigos em revistas nacionais e 2.300 em revistas internacionais; em 1994, esses números saltaram respectivamente para 14 mil e 8.400, o que mostra que a produção científica quadruplicou, enquanto o número de cursos não chegou a duplicar.
Um outro indicador é o aumento da capacidade de formação de mestres e doutores: em 1981, os cursos titulavam por ano uma média de 4,9 mestres e 1,4 doutor, enquanto em 1994 essa média passou para 7,2 e 3,3, respectivamente.
Dentro desse quadro, a USP (Universidade de São Paulo) ocupa um lugar de destaque como a instituição de ensino superior que mais forma especialistas, mestres e doutores no país. A USP já outorgou cerca de 21 mil títulos de mestre e 12.500 de doutor (o número de doutores existentes atualmente no Brasil não atinge a casa dos 20 mil).
A USP não só forma em maior número como também em excelente qualidade, como pode ser demonstrado pelos conceitos atribuídos pela Capes nesta última avaliação, que são superiores à média nacional (93% dos cursos de mestrado e 94% dos de doutorado obtiveram conceitos A e B).
O grande número de alunos matriculados no doutorado (mais de 7.500 em 1996) é um indicador da vocação da USP como o maior centro nacional de formação de pesquisadores de alto nível, sendo no momento responsável pela formação de mais de 50% dos doutores titulados no país.
Confirma esta vocação o expressivo número de professores de outras universidades brasileiras que procuram a USP para obter sua formação doutoral (cerca de 1.800 alunos matriculados em 1996). Há também 1.655 alunos estrangeiros matriculados na USP, vindos dos diferentes continentes, atestando o reconhecimento internacional de nossa pós-graduação.
Diante desses dados, fica claro que o sistema de pós-graduação, em especial o da USP, vem prestando um relevante serviço ao país, ao contrário do afirmado por certos setores da imprensa, com base em uma análise superficial dos dados divulgados pela Capes.

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