São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996
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Investidores europeus reduzem aplicações no país

Queda foi de 25% em 12 meses, segundo corretora de Londres

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A fragilidade do presidente Fernando Henrique Cardoso causou uma queda de 25% nas aplicações dos investidores europeus no mercado de capitais brasileiro nos últimos 12 meses, segundo informou a corretora Stephen Rose & Partners, de Londres.
Principal canalizadora de dinheiro europeu para as Bolsas brasileiras, a Stephen Rose diz que o provável mau desempenho do PSDB nas eleições municipais vai colocar em risco as reformas e enterrar de vez a tese da reeleição de FHC.
Para Stephen Rose, presidente da corretora, a combinação desses dois fatores -fracasso do PSDB e fim da reeleição- transforma a segunda metade do mandato de FHC em uma corrida para a Presidência da República.
Para Rose, FHC tem de mostrar algum sucesso logo, porque o estilo de seu governo de atacar apenas a superfície dos problemas não vai ser suficiente por muito tempo.
Corrida eleitoral
"Os investidores europeus estão muito menos agressivos em relação ao mercado brasileiro porque acreditam que o resultado das eleições pode determinar o fim da coalizão governamental e mais dificuldades para as promessas de reformas de FHC", disse Rose.
"Há um sentimento de que o clima político é mais difícil e mais incerto", afirmou. "Os investimentos estão sendo feitos dentro da própria Europa, onde há sinais de melhor desempenho econômico, muito interesse no Leste Europeu e no Japão".
A análise da corretora londrina diz que, se as urnas confirmarem o quadro das pesquisas de intenção de voto, Paulo Maluf vai tirar o PPB da coalizão governamental, inviabilizando as reformas propostas pelo governo.
"Políticos fortes, tais como Antônio Carlos Magalhães, seu filho Luís Eduardo e Itamar Franco, entre outros, vão dar prioridade à sua agenda política para chegar ao Planalto", disse.
Rose disse que sua expectativa em relação ao Brasil atualmente é sombria, porque acha que a posição de FHC não é tão dominante quanto há 18 meses.
Rose não concorda, porém, com as críticas que dizem que o presidente não fez nada de substancial desde a aprovação de várias reformas nos primeiros seis meses de seu mandato.
Rose disse que isso não é verdade, porque a inflação continua sob controle, o sistema bancário está em reestruturação, a privatização recomeçou, as reservas internacionais aumentaram e foram tomadas medidas para aliviar o arrocho nos juros e no crédito.
Mas Rose disse que há muita preocupação com o déficit federal, que é muito maior do que se esperava; com o desemprego, que aumentou acentuadamente no último ano; com a falta de recursos para financiar a saúde e a educação; com a hesitante reforma agrária; e com os fracos sinais de reaquecimento da economia.
"Sem o estímulo da redução do custo Brasil, equilíbrio nas contas públicas com as reformas, a economia por si só não tem como atrair os investimentos, sejam diretos na produção ou no mercado de capitais, que são necessários para maiores taxas de crescimento", disse.

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