São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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'Nós não podemos eleger um iogurte'

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, aproveitou uma solenidade na Telesp para disparar uma bateria de críticas ao prefeito Paulo Maluf e ao candidato do PPB à Prefeitura de São Paulo, Celso Pitta.
Motta disse que Maluf "trabalhou para o regime militar, consolidou o autoritarismo, foi a favor da censura à imprensa" e que anestesiou a opinião pública com uma campanha publicitária milionária.
Usou adjetivos como "engodo", "soberbo" e "blefe" para referir-se a Maluf e disse que o prefeito fez uma plástica nos olhos, mas não conseguiu modificar a alma e a consciência.
Empregado
Durante mais de meia hora de entrevista, concedida no andar da presidência da Telesp, o ministro referiu-se a Pitta como empregado da Eucatex (empresa da família de Maluf).
"O que Pitta fez na vida? foi um bom administrador? De quê? da Eucatex, a empresa do prefeito? Ele era boy da empresa? Era executivo ou era o cara que operava o caixa do prefeito?", indagou em tom de ironia.
O ministro disse que o crescimento da candidatura de Pitta é fruto apenas de marketing publicitário:
"Não podemos eleger um produto, um iogurte, um cara que foi selecionado (para disputar a eleição) pelo departamento de pessoal da Eucatex".
Chegou a sugerir, inclusive, que Maluf estaria usando a máquina da prefeitura para financiar a campanha de Pitta.
Disse que a campanha de Serra enfrenta dificuldades materiais,"enquanto outras são fartamente ricas, porque ainda usam métodos de governo que queremos varrer deste país".
Embora o alvo principal do ministro fosse Pitta, acabaram sobrando ataques para os demais candidatos.
Ele referiu-se a Rossi como "aventureiro espiritual" e a Erundina como a candidata dona do "estilo doce de apanhar gravetos e olhar árvores".
Motta convocou a entrevista para tentar reverter o mal-estar criado na campanha tucana pela entrevista que deu em Brasília, na última terça-feira.
Campanha errada
Na ocasião, o ministro disse que a campanha de José Serra (quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto) estava errada desde o começo e que o candidato deveria ser apresentado ao público ao lado do presidente Fernando Henrique, à do governador Mário Covas e à dele próprio, Motta.
Ontem, o ministro disse que os jornais lhe atribuíram declarações que não fez e apresentou uma análise otimista da campanha de José Serra.
Disse que as últimas pesquisas apontam para um congelamento da posição de Pitta no ranking dos candidatos, para a queda de Luiza Erundina (PT) e de Francisco Rossi (PDT) e para o crescimento de Serra.
Serra e Pitta
Chegou a prever que o segundo turno será disputado entre o candidato José Serra e o pepebista Celso Pitta.
Motta negou que irá interferir para uma mudança nos rumos da campanha de José Serra.
Disse que eventuais problemas da campanha são discutidos internamente e que as correções são determinadas pelo próprio candidato.
Negou ainda que tenha beneficiado a Rede Record de Televisão em troca do apoio da Igreja Universal do Reino de Deus à candidatura de Serra, mas não negou o acordo político em si.
Disse que, nos últimos meses, autorizou a instalação de cerca de 370 estações retransmissoras de TV para a Rede Vida e que, por este critério, poderia ser acusado de beneficiar a Igreja Católica.

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