São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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Nóbrega leva Tonheta a Lyon

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

No próximo dia 12 de setembro, no Théâtre du Point du Jour, Antonio Nóbrega inaugura um dos maiores eventos culturais da Europa, a Bienal da Dança de Lyon, que para esta sétima edição elegeu o Brasil como tema.
Lyon receberá, até 29 de setembro, 500 artistas brasileiros, que vão traçar um painel popular e erudito da cultura do Brasil.
Essas duas vertentes estão contidas na arte de Antonio Nóbrega, um pernambucano que expressa a alma popular com requinte único.
Na Bienal de Lyon, ele apresentará "Figural", primeiro espetáculo que revelou o personagem Tonheta, que estreou em abril de 1991 na sala São Luiz, em São Paulo.
Herói picaresco, que a partir de abril de 1997 será tema de um filme, Tonheta também integra os espetáculos "Brincante" (92) e "Segundas Histórias" (95).
Nóbrega, seu criador, vem se destacando como artista múltiplo, difícil de ser classificado. Seus espetáculos, uma fusão de dança, teatro, canto, música, acrobacia, mímica, vinham sendo apontados como obras teatrais.
No momento, ainda saboreando o sucesso do show "Na Pancada do Ganzá", ele anuncia: "Nunca me senti muito à vontade no gueto do teatro. De agora em diante, pretendo aprofundar o diálogo entre dança e música em meu trabalho".
A idéia de cruzar mais intensamente essas duas linguagens surgiu com "Na Pancada do Ganzá", em que a dança está presente.
"Procuro sintetizar expressões", prossegue. "A rigor, não me considero uma pessoa de teatro, que explora dramaturgia, encenação. Minha atuação envolve mais música e dança que, para mim, é um universo mais rico."
Ex-violinista da Orquestra de Câmara da Paraíba e da Orquestra Sinfônica de Recife, Nóbrega já se destacava como músico aos 12 anos. Somente aos 18 iniciou seu contato com dança, por meio da arte popular.
Nas manifestações de rua, descobriu o frevo, as micagens dos presepeiros, o bumba-meu-boi, os repentistas e dançadores de ternos.
Depois, em São Paulo, estudou dança moderna e consciência corporal com o professor Klauss Viannna, absorveu os ensinamentos do diretor teatral italiano Eugenio Barba e ainda pesquisou as danças do Oriente.
"Sinto necessidade de fazer poesia por meio do corpo. Para escrever, contamos com as letras do alfabeto, para compor música temos as notas. Já no corpo temos uma malha muscular, que nos permite criar inúmeras posturas e passos."
Para Nóbrega, a dança clássica, apesar de sua beleza, é cartesiana e geométrica. Não o satisfaz. "O corpo precisa ser mais deformado e desorganizado", diz.
Em seu teatro-estúdio "Brincante", Tonheta vem desenvolvendo improvisações sobre danças como o frevo. "É um deleite ficar poetisando meu corpo por meio do universo da minha cultura."
"As improvisações vão impregnando meu corpo. À medida que exploro os princípios de movimentação do frevo, por exemplo, deixo meu corpo se expandir criativamente, até o momento em que ele é capaz de se recriar."

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