São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Gastronomia é arte elevada em "O Cozinheiro Imperial"
JOSIMAR MELO
O livro é assinado por um certo R.C.M., suposto cozinheiro de D. Pedro 2º, lançado em 1840 (quando o imperador era ainda adolescente). Não há dúvidas quanto à autenticidade da obra (encontrada num sebo, em segunda edição de 1843, pelo economista Paulo Sandroni -sua mulher Vera Sandroni adaptou-o para esta edição). Quanto à verdadeira identidade do autor, ou sua função de cozinheiro do palácio, não se sabe: a editora informa que seu anonimato devia-se, na época, a questões de segurança do monarca. Fosse o autor um Carême (cozinheiro francês) tupiniquim ou um farsante, o que importa é que seu receituário é rico e ilustrativo do repertório alimentar de nossa magra aristocracia. Abundam receitas com ingredientes de tom europeu como lebres, javalis, pombos, aves de caça como tordos e narcejas, trufas, baunilha. Mas não só. O autor revela-se um espírito cultivado, arguto, moderno em sua visão da gastronomia. Prega a incorporação, na dieta europeizada da elite cortesã, "dos produtos naturais deste belo e fértil país". Igualmente saboroso é ler os conselhos sobre como proceder à mesa, mistura de referências sobre a forma de comer e os bons modos. Nesta esfera dos costumes está um dos grandes méritos da reedição. No Brasil do Império, se não faltavam talheres de prata nos palácios, nem por isso o principal talher deixava de ser... a mão. RCM, seja ele quem for, deixou uma obra de culinária valiosa, um belo registro histórico e uma visão sensível da gastronomia como uma arte elevada. Texto Anterior: Salão de Piracicaba começa hoje Próximo Texto: Cecília enamora a lenda Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |