São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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VÔO RASO

Será positivo se for modificada a regulamentação de vôos internacionais nos termos atualmente em estudo pelo governo. O número de linhas pode aumentar e o preço dessas passagens tende assim a cair.
Hoje, a eventual recusa de empresas brasileiras em operar uma linha internacional impede que firmas estrangeiras o façam aqui. O governo pretende eliminar esse poder de veto. As empresas brasileiras manterão o direito a fazer igual número de vôos, mas as estrangeiras poderão operar as linhas enquanto as nacionais não se decidirem a fazê-lo.
É de estranhar, porém, que não estejam em estudo medidas para aumentar também a concorrência nos trajetos nacionais, cujos preços são extremamente altos para os padrões mundiais. No Brasil, como em vários outros países, empresas estrangeiras não podem operar linhas nacionais.
O alto custo dos trajetos internos onera os que viajam profissionalmente, desestimula o turismo pelo país e induz viagens para o exterior. Excetuados alguns "pacotes" sem flexibilidade, com vôos fretados e vinculação de hotéis, ir ao exterior hoje custa frequentemente menos que viajar entre cidades do Brasil.
Um vôo de 2.111 km entre São Paulo e Recife, por exemplo, custa hoje -já com 30% de desconto- cerca de R$ 340. Nos Estados Unidos, uma passagem entre Boston e Los Angeles, cobrindo 4.189 km, quase o dobro da distância, pode ser comprada por menos de US$ 300.
É lamentável, ademais, que, no caso dos vôos internacionais, o governo cogite aceitar a barganha das empresas aéreas nacionais reduzindo impostos e tarifas como compensação pela maior abertura à concorrência externa. Seria uma flexibilização à custa dos cofres públicos.
Nesse sentido, a eventual concessão de vantagens a empresas aéreas permite indagar se o Brasil está pouco a pouco voltando às nocivas práticas de beneficiar aqueles grupos cujas demandas, de um modo ou outro, chegam com mais facilidade à mesa de um ministro.
São justas e necessárias medidas que reduzam os preços aéreos. Mas que não se repita a fácil e enganosa solução das benesses estatais, cujo custo recai sempre sobre o cidadão, que paga impostos e sofre com a má qualidade dos serviços públicos.

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