São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Pesquisas qualitativas orientam Pitta

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O publicitário Duda Mendonça acompanhou o debate, segunda-feira no estúdio da Bandeirantes, de celular ligado. Do outro lado da linha, seus assessores estavam diante de um grupo de dez paulistanos, selecionados para uma pesquisa qualitativa, ao vivo.
Cada gesto ou palavra de Celso Pitta era avaliado e a avaliação transmitida imediatamente ao publicitário, que assim dirigia o candidato, nos intervalos.
Escolhido
A cena foi relatada por Armando Corrêa, sócio da Duda Mendonça Marketing Político, que estava do outro lado da linha, com a coordenadora de pesquisa da campanha, Cristina Pacheco.
A cena expõe o poder alcançado pelas pesquisas qualitativas ou de grupo, na campanha deste ano. Em especial, na candidatura Pitta.
O candidato já nasceu dos grupos. O processo de escolha começou com oito nomes, reduzidos a quatro pelo prefeito Paulo Maluf.
Reynaldo de Barros, Lair Krahenbuhl, Roberto Paulo Richter e Pitta, gravaram um texto para apresentação em vídeo a diversos grupos, selecionados por faixa social, idade e outras categorias.
Ao contrário do que esperavam os publicitários, devido à cor, mas também ao comportamento acanhado de Pitta diante das câmeras, ele esteve sempre à frente, em todos os grupos.
Maluf decidiu-se por ele e Duda Mendonça cuidou de aperfeiçoar sua interpretação diante das câmeras, dirigindo dezenas de vezes cada tema, cada discurso, até que o candidato Pitta estivesse pronto.
Sessão
A Folha teve acesso a um dos grupos diários de pesquisa qualitativa do PPB, agora voltados ao horário na TV. Na terça, acompanhou um grupo das classes C e D na avaliação da propaganda.
A pesquisa é feita em sala apertada, em torno de uma mesa retangular, com oito a dez pesquisados, que não sabem do que se trata. Na ponta da mesa, a moderadora.
Corrêa e Cristina Pacheco acompanham a sessão no aposento ao lado, através de um grande espelho, como nas sessões de identificação dos filmes policiais.
A cada noite, todas as noites, um novo grupo se reúne. Nenhum dos integrantes jamais se viu antes -e não vai voltar, depois.
A mediadora abre explicando rapidamente a diferença entre pesquisa quantitativa e qualitativa -dizendo que a primeira envolve números e é também chamada científica (para Duda Mendonça, "burra") e a segunda é subjetiva, baseada nas opiniões deles.
Pede "o mais sincero de vocês, sempre com bastante respeito" e passa às perguntas. Um por um é chamado a dar a sua intenção de voto e a sua segunda preferência.
Um deles dá o nome, mais "35 anos, agente de segurança, moro em Sapopemba". Vai votar em Pitta e não tem outra alternativa. Outros dão declarações semelhantes.
Primeira conclusão da coordenadora Cristina Pacheco, atrás do espelho: "Voto cristalizado". Os eleitores de Pitta estão com a opção fechada, sem perspectiva de flutuar para outro candidato.
Continua a conversa. Sobre José Serra (PSDB), alguém diz: "Me dá azia esse homem". Sobre Pitta, um eleitor negro comenta, rindo: "Esse fura-fila é furado".
Descolamento
Começa o horário eleitoral e todos se calam, comem salgadinho, tomam Coca-Cola. A discussão recomeça meia hora depois, terminado o programa. Inesperadamente, Serra, apesar da violência verbal, surge bem avaliado. "A azia passou." Lembram seus planos contra o desemprego.
Também José Pinotti (PMDB), mas apenas pelas mulheres e, comenta a coordenadora, porque foi dele o programa que menos recorreu a cenas do debate, o que fez com que chamasse atenção.
Os participantes são provocados a avaliar Pitta, que é o foco da pesquisa. É citado como "muito educado", "pessoa muito gentil", que "respeita as pessoas", o que deixa Corrêa e a coordenadora sorrindo.
Por que vai votar em Pitta? Nem PAS, nem Leve-leite, nem Fura-fila. A única razão lembrada é o Cingapura. Mais importante: quando a mediadora, na mesa, lembra que Erundina e Serra atacaram Maluf para atingir Pitta, alguns reagem.
Conclusão: "Começou o descolamento". O eleitor de Pitta estaria começando a ver o candidato separadamente, não aceitando mais que ele seja atacado via Maluf.
Em menos de uma hora, como observa a moderadora Tânia Gondim, todo grupo já se dividiu em personagens. "Tem o chato, o que monopoliza, o que entra mudo e sai calado." Quando termina a sessão, todos são presenteados com um brinde. Nenhum é pago.

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