São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Banco consome 52,3% da dívida do Real

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Medidas voltadas para os bancos federais, estaduais e privados respondem por mais da metade do aumento da dívida interna federal em títulos desde a implantação do Plano Real.
Chega-se a essa conclusão a partir dos critérios do Banco Central para determinar os fatores de expansão da dívida, que em 24 meses de real saltou de R$ 61,765 bilhões para R$ 154,287 bilhões.
Esse aumento seria R$ 48,373 bilhões menor se não tivesse sido necessário evitar a quebra de instituições financeiras após o controle da inflação e a mudança de regras do mercado.
A cifra equivale a 52,3% do volume adicional de títulos federais no mercado financeiro de junho de 94 a junho de 96 -R$ 92,522 bilhões.
Para determinar os motivos do crescimento da dívida em títulos, ou mobiliária, o BC leva em conta o uso desses papéis no controle do volume de dinheiro na economia.
É que o Banco Central vende títulos públicos no mercado quando há necessidade de retirar excesso de moeda em circulação, evitando efeitos inflacionários.
Recentemente, a preocupação em determinar as causas da emissão de títulos começou a se incorporar às estatísticas oficiais.
A dívida federal em títulos, além de ter crescido 150% em dois anos de real, é de curto prazo e sujeita a juros altos -por isso, tornou-se a principal causa da ampliação do déficit público.
Proer
No cálculo dos fatores de crescimento da dívida mobiliária, o BC combina os dois tipos de empréstimos a bancos privados -as linhas normais, ou redesconto (empréstimos do Banco Central para instituições com problemas de liquidez), e o Proer (programa oficial de incentivo às fusões bancárias).
Nos dois casos, o socorro do BC faz aumentar o volume de dinheiro em circulação e é seguido da venda de títulos.
Como parte do dinheiro do Proer foi utilizado para pagar dívidas antigas dos bancos nas linhas de redesconto, o BC abate essa parcela da conta final.
Assim, em operações de assistência a bancos privados, foram lançados no mercado R$ 12,830 bilhões em títulos da dívida federal.
No caso do socorro ao Banco do Brasil, o aumento da dívida foi mais direto. O governo usou títulos para comprar R$ 6,442 bilhões em ações da principal instituição financeira da União.
Troca com Estados
Mas a ajuda aos bancos com maior impacto sobre a dívida mobiliária federal foi a destinada às instituições estaduais.
Logo no início do Real, o BC começou a trocar títulos das dívidas estaduais por papéis federais, de maior aceitação no mercado.
Sem isso, os bancos estaduais, que negociam os títulos dos Estados no mercado, não teriam como fazer caixa. Em junho último, já eram R$ 29,101 bilhões em títulos federais entregues ao sistema bancário por esse motivo.
O BC ganhou papéis estaduais em troca. Mas os governadores pressionam o governo a transformar esses títulos em créditos de longo prazo.

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