São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Covas fala em vender Banespa para saldar os débitos do banco

Para governador, pagamento da dívida se tornou inviável

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), admite a privatização do Banespa como uma forma de solucionar a dívida do banco, estimada em R$ 19 bilhões.
Anteontem, ele recebeu no Palácio dos Bandeirantes um grupo de cerca de 5.000 funcionários do banco. Os bancários queriam uma solução definitiva para o impasse.
O governador afirmou que o Estado não tem condições de avançar nas propostas que já fez no passado. "Eu não aceito mais pagar 50% e financiar o resto, porque, com o crescimento da dívida, ela se tornou inviável."
Quando São Paulo se propôs a pagar metade da dívida, ela estava orçada em R$ 15 milhões. Segundo Covas, a dívida tem crescido cerca de R$ 500 milhões por mês.
O governador pediu aos funcionários do banco que se reúnam com ele para encontrar uma solução nos moldes permitidos pela MP (medida provisória) 1.514/96.
Entre as alternativas contempladas pela MP estão a federalização do banco, sua transformação em banco de investimento e o pagamento de 50% com refinanciamento do restante.
"Nós ficamos decepcionados com a atitude do governador, mas não vamos desanimar", disse Ernesto Antonio da Silva, presidente da Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso.
O Banespa completará em 30 de dezembro dois anos sob intervenção federal. Pela legislação, esse prazo não poderá ser prorrogado.
Como o banco paulista -tecnicamente quebrado- só permanece aberto graças ao socorro do Banco Central, uma solução terá que ser encontrada até lá.
Pelo decreto 2.321, que criou o Raet (Regime de Administração Especial Temporária) aplicado ao Banespa, a intervenção só pode terminar com a recuperação, a privatização, a federalização ou a liquidação do banco.
Desde a intervenção, o BC defende o desfecho da privatização. Covas, com apoio maciço dos políticos paulistas, brigou pela recuperação do banco com apoio federal.
O governador ganhou a primeira batalha. Fechou um acordo com o Ministério da Fazenda, em janeiro, para pagar com ajuda do Tesouro Nacional a dívida de R$ 15 bilhões do Estado com seu banco.
Mas quando o acordo foi aprovado pelo Senado, em maio, a dívida já estava em R$ 18 bilhões. Desde então, o governador não se interessou mais pelo acordo.
Afastando temporariamente a hipótese de recuperação, o BC analisou os outros desfechos possíveis para o Banespa -mas as conclusões são desanimadoras.
Privatizar, sem a concordância de Covas, é impossível. Se o Estado não concordar em pagar a dívida junto ao banco, o Banespa não interessará a nenhum comprador.
O BC só admite a federalização se for seguida de privatização. E aí volta-se ao problema da dívida do governo paulista.
Liquidar um dos dez maiores bancos do país também não é uma idéia que agrade ao BC. Não é fácil imaginar os efeitos políticos e econômicos da medida.

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