São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Nomes de edifícios exigem dicionário

OSCAR RÕCKER NETTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Condestável, Pepeco, Sacy, Love's Park, Las Palmas Strip Center. Seja lá qual for o edifício, a escolha de seu nome quase sempre carrega uma história curiosa.
O nome do edifício X Três, que fica em Santos (SP), por exemplo, é uma homenagem da técnica em radiologia Irondina Maciel -cuja família construiu o prédio- às coisas mais importantes da sua vida: o raio X e seus três filhos.
Mas o processo de escolha de nomes dos edifícios, residenciais ou comerciais, está mudando.
Se, antes, o nome saía da "inspiração" -às vezes duvidosa- do construtor (veja quadro ao lado), hoje a escolha passa pelo trabalho dos profissionais de marketing.
Com essa mudança, um fenômeno está em voga no mercado: usar nomes estrangeiros nos edifícios.
"Hoje os prédios novos têm nomes complicados. O pessoal de marketing deve ter lá seus motivos, e as pessoas parecem gostar", diz Szymon Goldfarb, 69, dono da construtora Goldfarb, que trabalha há 45 anos no setor imobiliário.
Elitismo
Segundo Maria Vicentina Dick, 56, professora de toponímia da USP (Universidade de São Paulo), o estrangeirismo representa uma tentativa de sofisticação dos imóveis. Toponímia trata do estudo dos nomes próprios.
"Em vez de usar 'colina', usam hill (em inglês). Não vejo por que passar uma imagem de sofisticação por meio de estrangeirismos."
Os publicitários têm suas respostas. "O brasileiro é ligado a produtos de sucesso no exterior", diz Sergio Malta Filho, 35, diretor executivo da Salles DMB&B.
Então, se o público consome, por que não usar? Nesse aspecto, o nome entra como parte integrante de toda a campanha publicitária, que costuma envolver somas consideráveis de dinheiro.
Para Mauricio Eugenio, 28, da Eugenio & Associados, o nome não tem a obrigação de vender o imóvel, "mas também não pode atrapalhar".
Gastos
Os gastos com o lançamento de um edifício justificam os cuidados com o marketing.
Em um empreendimento com volume de vendas de R$ 8 milhões, o investimento na campanha publicitária é de R$ 250 mil, em média, diz Eugenio. "Por isso, a estratégia deve ser bem trabalhada."
A Método Engenharia, por exemplo, investe entre 3% e 4% do custo do edifício em publicidade.
Em um edifício como o Condominium Club Ibirapuera, em São Paulo, a cifra chega a R$ 1 milhão. O prédio custou R$ 30 milhões, segundo o gerente de contratos da Método, Alcides Gonçalves, 38.
Para ele, o nome desse empreendimento tenta traduzir um "conceito" de morar. "Não existe mais amadorismo nessa área."
Para alcançar melhor desempenho nas vendas, algumas construtoras buscam saídas alternativas.
A paulista GHG, por exemplo, coloca nomes de praias em 98% dos seus lançamentos. "Na realidade, o comprador não dá a mínima para o nome", arrisca o diretor da construtora Márcio Buk, 31.

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