São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
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Meu dia de Antonio Ermírio

CELSO LODUCCA

Há alguns dias anunciei que estava deixando de participar da criação dos comerciais e outdoors da campanha de Luiza Erundina para a Prefeitura de São Paulo.
Algumas pessoas estranharam essa minha atitude, já que, dizem, "política é isso mesmo". Outros a apontaram como uma covardia esperta, alegando que eu estaria prevendo um fracasso e por isso resolvi fugir antes da hora. E uns poucos me apoiaram na decisão.
Entendo. Não é comum neste país abrir mão de um faturamento gordo por simples convicção. Coisa que já fiz algumas vezes na vida e na minha empresa.
Acredito que cliente e agência devem comungar das mesmas visões de vida, do negócio e do que significa ser parceiro. E, no caso específico, ter a mesma visão de prática política.
O dia-a-dia revelou com bastante clareza que coincidíamos em pouco ou quase nada com boa parte do PT, exceção feita à própria Luiza e ao coordenador Pedro Dallari, para citar os mais próximos. E uma das qualidades do PT é a sua diversidade e forma democrática de decidir as coisas.
Na discussão interna prevaleceu a opinião da maioria que, definitivamente, não passa nem perto da minha. Direito do cliente. Mas me deixou bem à vontade para abrir mão da conta do partido. Não sei -e não quero- administrar uma imagem na qual eu não acredito.
Mesmo que traumático, este acontecimento não chegou a me desiludir a ponto de decidir me afastar integralmente do assunto político.
Ao contrário do Antonio Ermírio, tive a sorte de estar vivendo ao mesmo tempo uma outra experiência nestas eleições, um contraponto, uma outra visão: eu, Paulo de Tarso e nossa equipe estamos criando os comerciais e outdoors da campanha do Cassio Taniguchi, do PDT de Curitiba. Ele, Jaime Lerner e Rafael Grecca vêm, há mais de 20 anos, transformando Curitiba na verdadeira cidade maravilhosa do Brasil.
Lá, com a coordenação da Cila Schulman, com o Pinheiro, da GW, e a Tereza Souza, do Nosso Estúdio (não por acaso, a equipe que eu havia indicado para a eleição de São Paulo), nosso candidato passou de quarto para primeiro -com 51%, segundo o Datafolha- em 15 dias.
E tão importante quanto o resultado é a forma de trabalho, a identidade de prática política entre o candidato, as pessoas que o apóiam e a equipe de comunicação.
Profissionalismo. Harmonia. Alegria. Confiança. Respeito. É assim que deve ser o relacionamento entre cliente e agência. Só assim se pode chegar ao resultado esperado. Isso não quer dizer não discutir nem divergir, mas sim maturidade para se chegar ao que é melhor para o cliente.
Antonio Ermírio, acredite: apesar de algumas decepções, a via política continua sendo, sim, uma alternativa importante para os empresários contribuírem para transformar, ainda que De Gaulle discordasse, o Brasil num país sério.

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