São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Garotas assumem tambores na taba pop

SÉRGIO MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

É cada vez maior o número de mulheres que brilham na percussão. Simone Soul, Elaine Moreira (Lã Lan), Meninas de Didá e Bolacha Maria, entre tantas outras, são parte de uma geração que prefere gastar suas energias socando peles, pratos e bumbos, ao lado de Caetano Veloso, Marisa Monte e Chico César. Mesmo que para isso tenha de enfrentar a desconfiança alheia.
"Quando entro no palco, as pessoas nem sequer desconfiam que eu toco bateria", desabafa Simone Soul, um dos destaques do show "Cuscuz Clã", de Chico César.
Simone foi convertida às artes da percussão por um ex-namorado, também baterista. "Ele colocava para mim uns solos do Neil Peart (do Rush, considerado um dos melhores bateristas do mundo) e eu achava barulheira", confessa.
O interesse pelo instrumento veio com o fim do namoro. Simone aproveitou a bateria do ex-namorado, largada na casa dela, e começou a ter aulas.
Há seis anos, Simone foi morar na Inglaterra, onde também se aperfeiçoou na percussão. Hoje, além de bateria, Simone toca djembe (tambor africano) e seu novo objeto de estimação é um gongo chinês.
Simone está sempre estudando um novo ritmo -seu interesse hoje está voltado para sons africanos-, pratica no mínimo duas horas de percussão e nota um crescimento de cumprimentos femininos após os shows de seu grupo. "As pessoas sempre ficam animadas quando me vêem tocando. Pensam: 'Se ela pode tocar abateria, eu também posso'."
A intuição que levou Simone Soul para a bateria também foi vital para Elaine Moreira, a Lã Lan. Ex-jogadora da seleção baiana de vôlei, Elaine descobriu o dom para socar peles aos 13 anos, durante um ensaio com Carlinhos Brown.
"Fiquei brincando na bateria, que estava sobrando num canto. Brown gostou e disse que eu tinha de tocar bateria", confessa Elaine.
Ela nunca tomou aula de percussão -"na Bahia todo mundo nasce com a percussão no sangue", diz- e burilou seu estilo em bandas como Rabo de Saia -que tinha entre seus integrantes Mônica Milliet, ex-percussionista de Marisa Monte- ou acompanhando Elba Ramalho, Carlinhos Brown, Nando Reis e Marisa Monte.
O estilo instintivo de Lã Lan a ajudou a descobrir novos instrumentos. Um deles, por exemplo, é um cano de plástico que ela gira no ar, provocando uma espécie de assovio. "Acabo de comprar uns instrumentos do Paquistão, que estou descobrindo aos poucos."
Simone Soul e Elaine Moreira são apenas dois exemplos de boas percussionistas. Há também Girlei, que empresta tambores aos metaleiros do P.U.S., as Meninas de Didá (destaque da trilha de "Tieta", composta por Caetano Veloso) ou o Bolacha Maria, outra invenção de Carlinhos Brown.
Elba Ramalho começou a carreira nos anos 60 tocando bateria. Ela pertencia a uma banda chamada As Brasas, que tocava músicas dos Beatles. "Meu sonho era tocar igual ao Ringo Starr. Eu tinha até um corte de cabelo parecido com o dele", diz Elba.
Isso sem falar em feras gringas como Sheila E., que durante muitos anos pertenceu à banda de Prince, e Cindy Blackman, que toca com Lenny Kravitz.
Antes, Moe Tucker pegou as baquetas no Velvet Underground nos anos 60 e a romântica Karen Carpenter deu algumas socadinhas no couro nas músicas dos Carpenters, nos anos 70.

Texto Anterior: Começa o processo de seleção das principais universidades
Próximo Texto: Trinta razões para ficar de mau humor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.