São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
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Curta japonês dialoga com "I Love Lucy"

Esther Hamburger

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Nós Amamos Lucy" (We Love Lucy) é o título do trabalho mais recente do japonês Hideo Nakazawa. O filme faz referência a "I Love Lucy", talvez o mais popular dos seriados americanos.
Quarenta e seis anos depois, a personagem que penetrou tantos lares, difundindo mensagens otimistas típicas do pós-guerra, volta no curta da televisão japonesa na figura de um esqueleto.
Aqui, a boa e ingênua loirinha,, comediante preferida da família média americana, encarnação da euforia do sonho que compensou a solidão e o isolamento do cotidiano das donas-de-casa nos novos subúrbios, é apresentada como "ancestral de todos os seres humanos, nascida África há 3,5 milhões de anos".
No filme de nakazawa, Lucy é um fóssil em exibição em um pedestal no hall de um museu de história natural. Uma relíquia que ganha vida sob as ordens da imaginação de crianças em visita escolar.
São meninos e meninas de origem étnicas as mais variadas, que desenham o esqueleto sob as ordens de uma professorinha.
Mas, fugindo ao controle da mestra, um garoto negro desenha o esqueleto de cabeça para baixo.
A professora protesta. Mas perde o controle quando o fóssil ganha vida e se põe a representar o papel desenhado pelo menino.
Lucy corre, dança, canta a "Carmem" de Bizet, atendendo aos desejos de cada criança. Até que porta se abre, e o esqueleto ganha a rua. Desaparece em uma luminosidade meio mágica para percorrer a realidade de destruição que permeia o mundo exterior. O fogo atinge os desenhos infantis. Mas o esqueleto sobrevive imponente.
" I love Lucy" foi dos mais bem-sucedidos seriados da decisão americana. Esteve no ar por quase 25 anos, de 1951 a 1974, em diferentes versões.
A última delas, "Here is Lucy", transmitida nos Estados Unidos de 1968 a 1974, com filhos da atriz nos papéis dos filhos da personagem, pode ser vista atualmente no Brasil em sessões vespertinas no canal Sony. Nostalgia que ainda tem lugar nas infinitas horas de programação a cabo.
Lucy continua a circular pelo planeta. A reflexão high-tech japonesa dialoga com esse ícone anacrônico da utopia da aldeia global.
A alegria infantil esfuziante da personagem nada tem a ver com os tradicalismos fragmentários que a globalização engendrou.
Valeu a pena aproveitar a presença de Nakazanha e conferir esse e outro de seus filmes em exibição no dia 29 no Espaço Unibanco, com reprise no dia 31 no MIS.

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