São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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A ameaça dos resíduos urbanos

ROBERTO KOCHEN

A disposição de resíduos sólidos urbanos ("lixo") torna-se cada vez mais importante no Estado de São Paulo, pelos volumes gerados diariamente por nossa população. Em nosso país, apenas 23% do lixo coletado é tratado e disposto adequadamente, e 77% é disposto a céu aberto (em lixões), de modo totalmente inadequado em termos de preservação do meio ambiente.
No município de São Paulo, são gerados diariamente cerca de 13 mil a 14 mil toneladas diárias de lixo. Desse total, aproximadamente 2% são incinerados, e 6% a 7% são tratados em usinas de compostagem. O restante é encaminhado para disposição final em aterros sanitários (91%). A coleta seletiva e reciclagem são realizadas em cerca de 1% da tonelagem diária.
Enquanto no município de São Paulo a coleta, tratamento e disposição do lixo urbano encontram-se equacionados, o mesmo não ocorre no interior do Estado. Levantamentos realizados por órgãos públicos revelaram a geração diária de 6.121 toneladas nesses municípios. Desse total, cerca de 3.953 toneladas (65%) são dispostos em lixões, apesar das consequências nefastas ao meio ambiente e à saúde pública que a prática acarreta.
A decomposição da matéria orgânica existente nos resíduos sólidos urbanos gera gases (como o metano e o gás sulfídrico), que impactam o meio ambiente e criam riscos à saúde pública. Ocorre também a formação de chorume (um líquido escuro, altamente poluente), que se infiltra no solo, contaminando a água subterrânea e o próprio subsolo. A geotecnia ambiental, um dos ramos da engenharia, trata da disposição de resíduos sólidos em condições adequadas de preservação do meio ambiente. Aterros sanitários são geralmente mais econômicos do que sistemas de tratamento do lixo, como compostagem e incineração. Esses aterros, se projetados, construídos e operados corretamente, coletam os gases gerados na massa de lixo em decomposição (dispersando-os na atmosfera, ou queimando-os) e drenam o chorume formado (que é encaminhado para estações de tratamento). Evita-se assim a contaminação do solo, da água e do ar.
É necessário que os municípios do nosso Estado realizem o gerenciamento de seus resíduos sólidos urbanos. Os aterros sanitários (pelo baixo custo de implantação e operação) devem ser estimulados, e seu projeto e construção, realizados com critérios científicos, empregando-se os conceitos de geotecnia ambiental. Esperamos que, assim, os lixões citados neste artigo sejam em breve apenas uma (triste) memória do passado.

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