São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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"Banco Eletrobrás" é maior que Bradesco

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo do Banco Patrimônio sobre a Eletrobrás revelou aos investidores externos uma faceta pouco conhecida da holding do setor elétrico: a atividade bancária.
A empresa tem mais lucro com empréstimos às subsidiárias e às usinas hidrelétricas do que com as operações típicas de geração e distribuição de energia elétrica.
O relatório, que recomenda a compra das ações da Eletrobrás, foi enviado para os clientes do banco norte-americano Salomon Brothers -dono de 50% do Patrimônio- no mundo todo.
Segundo o estudo, a empresa detinha, em dezembro de 1995, uma carteira de empréstimos da ordem de US$ 23,3 bilhões.
Feitas as contas, a operação bancária da estatal teria um valor econômico de US$ 5,3 bilhões. Se fosse um banco, essa área da Eletrobrás teria um invejável patrimônio líquido de US$ 11 bilhões.
Para se ter uma idéia do que isso representa, basta olhar para os números do Bradesco, maior banco privado do país. Em dezembro passado, o banco tinha empréstimos da ordem de US$ 12,7 bilhões e um patrimônio líquido de US$ 4,98 bilhões.
No ano passado, o Bradesco lucrou US$ 555 milhões. Somente um pouco acima dos US$ 529 milhões de lucro projetado pela operação bancária isolada da Eletrobrás este ano, sem contar os ganhos contábeis sobre esse montante, de aproximados US$ 300 milhões.
Banco de investimento
"Não se pode comparar esse setor da Eletrobrás com os bancos comerciais, pois a empresa cobra "spreads" (ganhos sobre os empréstimos) de 2% ao ano, enquanto os primeiros cobram de 10% a 20%. O perfil bancário da estatal é mais parecido com o de um banco de investimento", diz Marcelo Audi, diretor do Patrimônio.
Mesmo assim, Audi acha impressionante o peso do lucro financeiro da companhia nos resultados finais.
É que a empresa tem ativos fixos superavaliados no balanço, explica Audi. "Isso causa uma depreciação final muito grande, que engole boa parte do lucro com a própria operação elétrica".
Na análise da atividade bancária da empresa, o Patrimônio incluiu empréstimos às subsidiárias (US$ 4,29 bilhões), à Itaipu (US$ 16,7 bilhões) e a outras empresas (US$ 2,35 bilhões).
Para bancar esses financiamentos, a Eletrobrás utiliza recursos de dívida externa, do próprio setor (fundo com contribuições especiais) e de empréstimos compulsórios do passado.
Setor elétrico
Analisando detalhadamente toda a atividade da Eletrobrás e projetando seus lucros potenciais, o Patrimônio concluiu que o preço da ação da empresa estava subavaliado em 25% no final de julho.
Outro estudo do Patrimônio sobre o setor elétrico global concluiu que, entre 1996 e 2000, o país terá que investir US$ 31,3 bilhões em geração e distribuição de energia.

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