São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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Seul condena ex-presidente à morte

DO "THE INDEPENDENT"; COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O ex-presidente da Coréia do Sul Chun Doo-Hwan foi condenado à morte ontem pela participação no golpe militar de 1979 e na repressão a uma manifestação pró-democracia que deixou 193 mortos.
O seu sucessor no cargo, Roh Tae-woo, foi condenado a 22 anos e seis meses de prisão pelos dois eventos. Nove dos principais executivos do país, 13 generais da reserva e 18 ex-assessores presidenciais também foram condenados a penas de até dez anos de prisão no final do julgamento mais dramático da história sul-coreana.
Os dois ex-presidentes sofriam várias acusações por causa do envolvimento em três escândalos diferentes. Os seus problemas começaram no final do ano passado, quando Roh e, mais tarde, Chun foram acusados de ter recebido subornos astronômicos, de milhões de dólares, enquanto estavam no poder, entre 1980 e 1993.
Eles foram acusados em seguida de tramar o golpe de dezembro de 1979, que levou Chun ao poder, e de executar o massacre de manifestantes pró-democracia, a maioria estudantes, na cidade de Kwangju, em maio de 1980.
Os dois foram condenados por amotinamento, traição e corrupção, apesar de Chun ter sido absolvido da acusação de assassinato porque não havia como provar que ele deu ordens diretas para atirar contra os manifestantes.
Corrupção
Pela condenação por corrupção, os dois ex-presidentes foram penalizados com multas no valor do que teriam recebido, um total de cerca de US$ 600 milhões.
Roh não recebeu a pena pedida pela promotoria, a prisão perpétua. De seus companheiros generais, 13 foram condenados a penas de quatro a dez anos.
Os assessores presidenciais e os executivos, que incluem os presidentes dos grupos Samsung e Daewoo, foram condenados a penas menores por causa dos subornos.
O julgamento durou cinco meses e meio e bateu recordes como o maior caso criminal do país.
Houve 34 sessões separadas, 220 páginas de veredicto, e um caminhão teve de ser usado para transportar as 160 mil páginas de provas do escritório do promotor para a Corte Distrital de Seul.
Ingressos para a pequena galeria estavam trocando de mãos por até US$ 1.200 cada no mercado negro.
Mas, desde o começo, estava claro que a política interna tinha relação direta com o julgamento.
A decisão de levar os ex-presidentes à Justiça foi tomada pelo presidente Kim Young-sam, o sucessor e protegido de Roh.
Ele falou do caso como uma cruzada, "para mostrar às pessoas que a justiça, a verdade e a lei estão vivas neste país".
Kim conseguiu combater as insinuações de que teria se beneficiado também dos subornos de Roh e ainda vencer as últimas eleições parlamentares, em abril.
'Circo político'
Os dois ex-presidentes denunciaram o julgamento como um "circo político". Apesar de o Judiciário ser oficialmente independente, nunca houve dúvidas de que eles seriam condenados.
Os condenados à morte no país são enforcados. A apelação de Chun é automática. O advogado de Roh deve apresentar a sua apelação na próxima semana. As audiências dos recursos devem começar em outubro.
Mesmo que a Suprema Corte do país mantenha as condenações, ninguém acredita que as sentenças sejam cumpridas na totalidade.
Com as eleições de 1997 à vista, o presidente Kim deve suspender a pena de morte de Chun, pois o ex-presidente é popular em região povoada do norte do país.
Kim também não deve considerar a morte de Chun prudente: a execução de ex-presidentes que não seguiram os padrões de comportamento em seu cargo podem criar um precedente alarmante.

Com agências internacionais

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