São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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Sobre o "custo Brasil"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Com a competência habitual, Mauro Zafalon mostrou sábado, nesta Folha, as mudanças nos hábitos de consumo do paulistano, medidas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
O que mais chama a atenção é o aumento exponencial, em quatro décadas, dos gastos com educação e saúde. Causa, segundo Antônio Prado, coordenador técnico do Dieese: a degradação do serviço público nessas áreas.
Eis um ponto do chamado "custo Brasil" que raramente entra nos cômputos de acadêmicos e, principalmente, de empresários. Ambos costumam medir apenas os custos que incidem diretamente sobre a produção (portos, impostos etc).
É um equívoco. Parece óbvio que, quanto mais a sociedade é obrigada a gastar em educação e saúde, menos sobra para outro tipo de gastos, que funcionariam como estímulo à atividade econômica.
Poder-se-ia argumentar que o gasto com educação não é gasto, mas investimento. Gasta-se hoje com os filhos para que, amanhã, a renda familiar seja maior, no pressuposto de que um melhor nível educacional proporciona remuneração mais elevada.
Em tese, é verdade. Resta medir se, na prática brasileira, é assim. Ousaria dizer que não, a partir de comparações com estatística similar da Coréia, o país de mais espetacular êxito econômico nos últimos 30 anos.
Lá, a porcentagem do orçamento familiar alocado para educação é apenas um pouco maior. Em 1994, último dado disponível, o coreano gastava 9,1% de seu orçamento para educar os filhos. O paulistano gasta, segundo o Dieese, 6,33%.
Parece óbvio que a diferença de menos de três pontos percentuais é desproporcional aos resultados obtidos. A Coréia tem hoje o maior número de doutorandos do mundo, proporcionalmente à população. O Brasil, todo o mundo sabe qual é o estado de sua educação.

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