São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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OMS não aprova pílula de Caruaru

DA AGÊNCIA FOLHA; COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) negou que tenha aprovado a pílula anticoncepcional masculina que o laboratório pernambucano Hebron pretende lançar em junho de 1997.
A Hebron havia dito que a pílula tinha a aprovação da organização.
A OMS afirma que desde 1981 é contrária aos testes clínicos da pílula com a substância gossipol.
A organização diz que a pílula não seria segura, segundo os testes disponíveis.
O diretor industrial do laboratório Hebron, Luiz Francisco Pianowski, 39, disse à Agência Folha em Recife que já esperava críticas.
"Sabíamos que sofreríamos esse tipo de pressão porque a fábrica é brasileira e está instalada no Nordeste, em Caruaru (PE)", afirmou.
Pianowski disse que, nos testes analisados pela OMS, foram utilizadas "grandes doses" do gossipol, que é extraído da semente do algodão e que impede a formação dos espermatozóides.
"Sabemos que a diferença entre muitos remédios e um veneno é a quantidade utilizada ou ingerida", declarou Pianowski.
Para a OMS, os testes com o gossipol "mostraram sinais de toxicidade em animais". Revelaram também que não há completa reversibilidade da infertilidade que a substância provoca.
"Mal-entendido"
Pianowski acha que esses testes não valem para a pílula, mas reconhece que, ao contrário do que havia dito, a OMS não comprovou a eficácia do produto.
Ele alegou que houve um "mal-entendido" e que pretendia dizer que os novos exames feitos após a avaliação da OMS "seguiram as normas internacionais".
Apesar da polêmica, Pianowski afirmou que o laboratório não vai rever seu cronograma e que pretende pedir ainda este ano autorização do Ministério da Saúde para comercializar o produto.
O médico Elsimar Coutinho, que desenvolveu a pílula para o Hebron, disse à Agência Folha em Salvador que a pílula anticoncepcional masculina que está sendo desenvolvida no Brasil é a menos tóxica que existe.
Segundo Quézia Bezerra Cass, da Universidade Federal de São Carlos (SP), que pesquisa anticoncepcionais masculinos, uma dose aceitável da droga que a pílula contém -aquela que traria os efeitos prometidos- está muito próxima da dose tóxica.
"Além disso, estudos já mostraram que o gossipol causa infertilidade permanente em cerca de 10% dos homens que o tomaram por mais de dois anos", diz Cass.

Colaborou a Reportagem Local

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