São Paulo, sábado, 31 de agosto de 1996
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Futebol ainda espera sua revolução burguesa

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

As primeiras semanas do Campeonato Brasileiro foram repletas de episódios que reafirmam o flagelo do calendário do futebol do país.
Em plena competição, clubes viajaram para o exterior, partidas foram canceladas, os estádios vivem às moscas.
Nas polêmicas sobre os males do futebol nacional, entre os maiores problemas estão o reducionismo e a redundância que fazem enxergar na incompetência o centro da tragédia.
As dificuldades têm raízes estruturais, na condição contraditória de um futebol que mantém um pé numa organização feudal e outro no capitalismo que gera fortunas com o mais popular dos esportes.
O fórum de debates promovido pela CBF em agosto sintetizou a oposição entre dois tempos históricos que não conseguem mais conviver em paz.
Até agora, feudalismo e capitalismo sobreviveram como aliados. Mas, para que o futebol se torne mais lucrativo, é preciso acabar com o calendário e a administração que fazem com que os clubes mais populares passem um semestre por ano envolvidos com deficitários campeonatos estaduais.
Os grandes clubes se identificam com os, digamos, interesses históricos do empresariado do esporte. É o caminho para fugir -ou sair- da falência. Com maior faturamento, é possível supor que menos craques emigrem para campeonatos profissionais.
No Brasil, pelo menos, se insinua uma revolução burguesa para enterrar de vez o feudalismo que emperra seu futebol.
Difícil mesmo é que os jogadores sejam incluídos na agenda da modernização. Nunca é demais lembrar que, neste país, 51,7% deles ganham no máximo um salário mínimo.
*
Não é só na renda dos jogadores que o futebol sintetiza o país. A tragédia de Dinei, amigo de Dener, morto em 94, é igual à de milhares de jovens.
Ao contrário do que o lugar comum sustenta, o esporte não impede o triunfo da droga, o buraco é mais embaixo.
Dinei e os atletas já flagrados no doping "social", a cocaína, lembram os jogadores de futebol de um conto de Sérgio Sant'Anna, que ouviam o técnico falar, mas nada entendiam. O técnico, um intelectual angustiado, falava sabendo que só um jogador o compreendia, e que este iria embora cedo ou tarde.
A culpa é de Dinei, que muito já ouviu falar dos males da droga, ou de quem permite sua comercialização e disseminação no Brasil?
*
Como entregou o Jô, até os grilos e as corujas do sítio onde Alberto Helena Jr. vive e medita em Ibiúna sabem que seu coração bate mais forte com o São Paulo em campo.
Por isso mesmo, é um prazer suplementar para qualquer palmeirense a generosidade de Helena ao escrever, com sua renovada paixão pelo futebol, a velha saga palestrina.

Matinas Suzuki Jr., que escreve às terças, quintas e sábados, está em férias

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