São Paulo, sábado, 31 de agosto de 1996
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Gravadoras apostam na "macumba para turista"

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da febre da selva que globalizou a mistura de heavy-metal com os tambores xavantes (ver Sepultura), o país volta a produzir "macumba para turista" em seu estado mais bruto e puro.
Apegados às cinzas que restaram do folclore tradicional, artistas e grupos têm lançado, em larga escala, discos ao ritmo do bumba-meu-boi, maracatu, bailes gaúchos, xangôs, forró de pé de serra, congadas, moda de viola etc.
A gravadora Vellas apostou as suas fichas no forró-purista do pernambucano Maciel Mello, um jovem de 33 anos voltado para as tradições do Vale do Pajeu.
O eterno retorno às raízes tem até uma série especial -do Oiapoque ao Chuí- da gravadora Atração, de São Paulo, especializada em acolher artistas que já fazem sucessos em suas "aldeias".
Esse selo lançou, associado a pequenas gravadoras da região Norte, os principais cantores e grupos do fenômeno da festa de Parintins.
Eles são responsáveis pelo som do "boi-bumbá", as toadas-jungles que revelaram, entre outros, Arlindo Jr. e a Banda Carrapicho.
Esta última, montada no ritmo do "bumbalanço", ganhou, pelo poder que o exotismo terceiro-mundista exerce sobre os franceses, status de "cult" em Paris, onde já fez vários shows.
A Paradoxx e a Royal Music, de São Paulo, apostaram em outra estrela regional de Parintins: Klinger Araújo e o grupo Encanto da Ilha.
Juntos, os cantores e grupos dessa "farra do boi" já chegaram próximo a 1 milhão de discos vendidos, segundo informações dos seus produtores.
O carimbó, que vem de Belém do Pará, também embarca na nova onda do folclore feito para vender a turistas e tocar no rádio. Com uma levada quase pop, a Banda Nova regravou um pot-pourri do cantor e compositor Pinduca, que é considerado o rei do gênero.
Boi em conserva
O velho e cansado bumba-meu-boi, talvez o maior ícone do folclore do Norte-Nordeste, também tem a sua vez com grupos de São Luiz (MA).
A cidade maranhense, hoje transformada em uma espécie de Kingston (Jamaica) brasileira, foi tomada pelo reggae, mas ainda conserva o seu boi, graças a pequenas esmolas oficiais.
O Boi de Morros e o Boi Bumbá de Axixá são os dois grupos que comandam o capítulo "Regional Norte" da série do selo Atração, dedicada aos maranhenses.
Esses dois discos, considerados "mais puros" pelos seus produtores, são disputados por turistas e deslumbrados em geral.
Lançados recentemente, a gravadora ainda não tem números sobre vendas. Mas discos do gênero costumam ultrapassar bandas de rock iniciantes e vendem algo em torno de 10 mil exemplares.
A região Sul do Brasil também participa da farra fonográfica do folclore de resultados.
O conjunto "Os Bilias" toca clássicos de bailes de galpão para animar qualquer churrasco-dançante de um CTG (Centro de Tradições Gaúchas).
Catarinenses, gravaram a trilha sonora que embala os tonéis de chopp da "Oktoberfest", em dois volumes. A estrela do disco é Lucia Luft com as suas canções alemãs.

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