São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A piada: Não vote em branco, vote no Pitta"

Cacá Rosset (dramaturgo): A Folha bem que poderia ter marcado mais tarde esse debate. TÔ MORRENDO DE SONO!
Fernand Alphen (publicitário) : Quem atira a primeira pedra?
Tufi Duek (dono da Forum): O senhor é contra ou a favor da estabilidade do funcionalismo público? Se contra, que soluções daria para essa importante questão?
Celso Pitta: Sou a favor da estabilidade para algumas categorias, como procuradores e fiscais, que não podem ficar sujeitos a pressões políticas. Quanto aos funcionários administrativos, penso que deva ser aplicado o mesmo tratamento que aos da iniciativa privada, onde a melhor garantia de emprego é a sua eficiência e produtividade.
Cacá Rosset: Se for eleito prefeito, o sr. se torna naturalmente presidenciável. Nos seus sonhos mais íntimos, o sr. acalenta ser o primeiro presidente negro do Brasil? Por favor, responda com sinceridade e não com clichês!
Celso Pitta: Meus sonhos no momento se concentram nas eleições de 3 de outubro. Depois de 15 de novembro talvez me permita sonhar em outros mundos.
Cacá Rosset: Será que o Pitta tá consultando o Maluf antes de responder?
Celso Pitta: Até agora não, porque as perguntas estão sendo fáceis.
Tufi Duek: O projeto Cingapura vem sendo utilizado em sua campanha como um dos pontos principais da administração Paulo Maluf. Entretanto, o número de casas entregues foi de 3.500 das 120 mil prometidas. Como o senhor vai transformar essa promessa em realidade?
Celso Pitta: A minha campanha está calcada não em promessas, mas na demonstração de ações e resultados de um trabalho que deve ser continuado.
Tufi Duek: O senhor se demitiria se não cumpridas as promessas de campanha? Me dê um exemplo concreto de quanto tempo levaria para construir as 120 mil casas.
Celso Pitta: Eu não assumi o compromisso de construir 120 mil casas. E a hipótese de demissão não existe porque não vou assumir compromisso que não possa efetivamente cumprir em meu mandato.
Cacá Rosset: sr. Pitta, tanto na literatura como na vida real, sempre acaba havendo um rompimento entre criador e criatura (veja por exemplo os casos de Frankenstein e Fleury). Será que no futuro o sr. não vai romper com o Maluf? Afinal, isso é clássico!
Celso Pitta: Isso é falta de classe! Eu não romperei.
Fernand Alphen: Como o sr. vê a degradação flagrante do ensino público brasileiro, inclusive no nível superior, e as discussões de privatização paulatina desse setor?
Celso Pitta: Estamos elevando a qualidade de ensino através da revisão de currículos, cursos de atualização do corpo docente, introdução de laboratórios de informática nas escolas. Não concordo com a privatização desse setor.
Fernand Alphen: Por que as grandes obras deste governo se concentram nos bairros mais favorecidos e nos grandes corredores de circulação?
Celso Pitta: Convido o prezado amigo para conhecer a estrada Jacu-Pêssego, que é a maior obra viária desta administração e se situa na zona leste.
Trata-se de uma obra pouco conhecida, por não ser polêmica. Há ainda a canalização de córregos e outras intervenções importantes da prefeitura na periferia da cidade
Cacá Rosset: Já que o sr. tem senso de humor, gostaria que contasse uma piada...
Celso Pitta: A piada: Não vote em branco, vote no Pitta.
Cacá Rosset: Huuummm... uma piada politicamente incorreta!
Fernand Alphen: Mas engraçada, principalmente tendo sido contada pelo candidato.
Paulo Lima (editor da revista "Trip"): Por falar em racismo, o sr. se sentiu atingido pelo palhaço Tiririca no episódio tão comentado?
Celso Pitta: Não me senti atingido mas considero um desrespeito à raça negra.
Cacá Rosset: Heeeiii, falta a piada! O nosso debate tá sério demais pro meu gosto!
Celso Pitta: Vou contar uma piada original. O Maluf não fuma, mas Celso pita. Rá rá rá.
Paulo Lima: Conte-nos como se deu seu encontro com Paulo Maluf, e como eram seus dias na Eucatex.
Celso Pitta: O encontro ocorreu quando assumi o cargo de diretor financeiro da empresa em março de 87, e foi muito cordial desde o primeiro momento. Fui convidado para ingressar na empresa pelo seu irmão mais velho, Roberto Maluf, a quem eu já conhecia 15 anos antes.
Cacá Rosset: O sr. tem algum projeto para ampliar as áreas verdes da cidade?
Celso Pitta: Tornar o complexo penitenciário do Carandiru um parque municipal semelhante a outros na cidade, incorporar na medida das possibilidades novas áreas verdes de forma a melhorar a relação metro quadrado de área verde por habitante na cidade, que é uma das mais baixas do mundo: 1,5 metro quadrado.
Paulo Lima: Fala-se muito sobre o incômodo e a feiúra das ruas de SP. Durante a administração Maluf, a cidade foi tomada definitivamente por placas, outdoors, back lights e os famigerados painéis eletrônicos em grandes cruzamentos.
O CIDADÃO que lhe der o voto deve esperar a continuidade da falta de critério e uma cidade cada vez mais feia?
Celso Pitta: É nossa preocupação combater essa poluição visual aplicando com rigor as posturas municipais, que lamentavelmente não vêm sendo respeitadas.
Cacá Rosset: O sr. é a favor do aborto?
Celso Pitta: Sou a favor nos termos estabelecidos na legislação, mas a decisão é de foro íntimo. Se houver uma manifestação em torno do tema, essa deve ser feita através de um plebiscito junto à sociedade.
Cacá Rosset: A sua resposta foi muito evasiva. Gostaria de saber se o sr. defende a legalização do aborto.
Celso Pitta: Se vocês quiserem, encaminhem as perguntas restantes que eu responderei por escrito. Agradeço imensamente a participação de todos e acredito que essa conversa tenha contribuído bastante para a compreensão da nossa proposta e um melhor conhecimento da minha pessoa. Meus cumprimentos a todos.
Cacá Rosset: Heeiii... peraí! Ainda tenho uma perguntas íntimas...
Volta aqui, Pitta!
Paulo Lima: Mais um político que nos deixa falando sozinhos...
Tufi Duek: Concordo com o Paulo Lima, políticos não têm jeito.

Texto Anterior: Candidatos "encaram" debate virtual
Próximo Texto: 'Vote em mim que eu me elejo', sugere Serra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.