São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Teatro leva sexo às escolas de Salvador

FERNANDO ROSSETTI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)

"Sobre o que vocês querem falar hoje?", pergunta a professora no início da aula. "Sexo!", respondem em coro seus alunos.
A cena é parte da peça "Quem Descobriu o Amor?", apresentada em escolas da periferia de Salvador (BA) por jovens de 12 a 20 anos do grupo Tribo do Teatro.
A peça faz parte do projeto "Educação, um Exercício de Cidadania", uma iniciativa que tem muita experiência a oferecer a redes e escolas que queiram incorporar a proposta do Ministério da Educação de introduzir nos currículos temas como ética e sexo.
O projeto inova em vários sentidos. Primeiro, reúne diversos agentes, com os próprios jovens como "mobilizadores".
Por exemplo, os atores-adolescentes são capacitados para lidar com as perguntas que surgem no debate que ocorre ao final da peça -tipo "O que é 69?"; resposta improvisada: "Sexo oral recíproco".
Isso garante um tom sempre bem-humorado na abordagem de temas que em outros lugares tendem a ser marcados ou por um discurso técnico-médico ou por um viés "politicamente correto", mas vivencialmente irrelevante.
O projeto foi montado em 1994 pela organização não-governamental Cria (Centro de Referência Integral para Adolescentes), envolve as secretarias da Educação e da Saúde de Salvador e é financiado pela Fundação Odebrecht.
Grupos de discussão
O trabalho não se limita à apresentação da peça e ao debate. "A idéia é implantar entre esses adolescentes a discussão sobre cidadania e saúde preventiva", afirma a coordenadora, Eleonora Rabelo.
Ou seja, a peça é uma espécie de isca, a partir da qual se formam grupos de jovens que, além da trocar experiências, acabam se organizando como agentes culturais e de saúde em suas comunidades.
O roteiro da apresentação, montado pelos próprios atores, cobre temas como etnia, a baixa qualidade do ensino, a história da mulher na sociedade e muito sexo -"com camisinha".
O fato de os atores serem escolhidos a partir dos grupos de discussão garante a "realidade" das cenas. Durante uma apresentação em um orfanato, as crianças e adolescentes riram muito quando um personagem contou que os seguranças de um shopping center o confundiram com um ladrão.
Para um estudante de classe média ou alta, esse tipo de piada não faria sentido.
A Tribo do Teatro está na sua terceira formação, e o Cria pretende agora que o projeto seja institucionalizado -isto é, que o município o absorva e mantenha e que a ONG seja apenas uma consultora.

O jornalista Fernando Rossetti viajou a Salvador a convite da Fundação Odebrecht

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