São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Virgem de assalto vive paranóia nas ruas

DA REPORTAGEM LOCAL

A preocupação com a criminalidade em Moema (zona sul de São Paulo) não está necessariamente ligada à vivência de episódios violentos.
Pessoas que nunca foram assaltadas em São Paulo entrevistadas pela Folha na região temem ser vítima de criminosos.
É o caso da médica oftalmologista Larisa Fabiabi, 25, que nunca sofreu um assalto em São Paulo. "Fui assaltada uma vez, há muito tempo, em Santos."
Na quinta-feira, Larisa foi entrevistada pela reportagem enquanto pedia socorro a um segurança de rua, por pensar estar sendo seguida por dois homens.
"Estava estacionando e ouvi dois caras comentando sobre meu carro. Os dois estavam se afastando e voltaram. Saí do carro e andei rápido, depois corri."
Apesar do cuidado, ela se considera "muito displicente".
O segurança identificou os dois homens como sendo pedreiros de uma construção próxima e descartou a hipótese de assalto.
Larisa confirma tendência detectada pela pesquisa Datafolha. Ela considera a violência o maior problema da cidade, mas atribui o problema também ao bairro.
"Já andei com canivete na bolsa, mas parei porque ele podia ser usado contra mim."
Trânsito
O advogado Alexandre Freitas Rodrigues, 27, está entre aqueles que consideram a violência o maior problema da cidade, mas não acha que seu bairro viva esse drama.
Morador de Vila Mariana (zona sul), Rodrigues já teve o pai sequestrado, há cerca de dez anos, mas acha que o principal tormento do bairro é o trânsito.
"Como os congestionamentos são causados pelas obras, acho até um mal necessário, mas é o problema que mais causa transtorno", diz ele.
A preocupação com o crime fez Rodrigues mudar alguns padrões de comportamento.
"Evito sair à noite, mas, se saio, é com uma turma maior."
Rodrigues acha que a causa da violência é a má-distribuição de renda e acha "um perigo" usar recursos como gás paralisante ou armas. "Você acha que está protegido e acaba dando margem à violência."
Família
Para Angela Ruiz, 47, não há dúvida de que a violência é o maior problema da cidade.
Ela nunca foi assaltada em São Paulo -"só uma vez, no Rio"-, mas sua filha de 21 anos foi estuprada há sete meses quando deixava a faculdade, em Santo Amaro.
"Ela morre de medo de sair na rua, de sair da faculdade sozinha. Até de dia ela tem medo de sair."
O episódio, ocorrido em um bairro distante de sua casa, em Moema, não mudou sua opinião sobre sua vizinhança. "Acho que não há problemas no meu bairro."

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