São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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"Frankenstinho" tem medo de parecer cruel

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Uma família chega à praia e começa a chover. Resolve inventar histórias e surge "Frankenstinho", em situação semelhante à que Mary Shelley viveu em 1816, ao criar Frankenstein, emblema da literatura e do cinema de terror.
A versão infantil do Frankenstein é criada pelos personagens para espantar o medo, sugerido à imaginação por relâmpagos, trovoadas e um cenário lúgubre.
"Frankenstinho" é de Atílio Bari e dirigido por Christina Trevisan, do grupo Theatralha & Cia., que montou o bom espetáculo "O Homem que Calculava e Lilavati - Aventuras da Matemática".
A montagem atual é bem acabada. O cenário principal, carregado de elementos soturnos, só assusta um pouquinho. Há objetos cênicos brincalhões, que dissolvem a atmosfera aterrorizante.
O cenário mostra o laboratório do Doutor Frankenstein. O ator (Atílio Bari) provoca só um pouco de medo, ao mostrar com naturalidade a construção da criatura feita de restos de cadáveres da sepultura.
O figurino segue a mesma concepção. A peça faz esse jogo de estimulação e dissolução do medo.
A criatura ganha existência e toma consciência de sua monstruosidade. Foge para a floresta. Encontra uma menina e uma feiticeira, que passam a cuidar de frankenstinho, imprimindo dignidade em sua vida -por meio da troca de afeto.
O problema de "Frankenstinho" é que a direção oscila quanto ao tratamento dado ao personagem.
Para minimizar seu ato vil de criação, Frankenstein explica a função de cada órgão do corpo humano enquanto Frankenstinho é criado.
Os atores procuram ser engraçados, mas o texto não ajuda. Durante o trabalho, Doutor Frankenstein faz propaganda antifumo, quando sua secretária traz um pulmão de um fumante do cemitério.
O doutor também faz mágicas e conta a história da vida na Terra, desde os dinossauros até o aparecimento dos seres humanos.
Frankenstinho é transformado em uma criatura boa e ganha uma alma. O enredo perde o rumo ao propor que o mal seja reparado por meio da bondade das mulheres.
Qual é a intenção da peça? Explicar ciência às crianças? Contar uma história de terror? "Frankenstinho" confunde os temas, não consegue desenvolvê-los e descamba para a valoração moral, que prega a salvação da alma.

Peça: Frankenstinho
Direção: Christina Trevisan
Elenco: Julio Chiba, Isabel Gomes, Roberta Paixão e Atílio Bari
Onde: teatro Maria Della Costa (r. Paim, 72, tel. 256-9115)
Quando: sábados e domingos, às 16h
Quanto: R$ 10

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