São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Filho de comandante da PM é investigado

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia está investigando a suposta participação de Ricardo Lisboa Felix, 22, filho do comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Claudionor Lisboa, em roubos de carros.
A acusação foi feita pelo garçom Abelar Rodrigues Pereira, 21, preso com um Tempra roubado após atropelar e matar uma menina de 8 anos em 21 de agosto passado.
Ontem, o taxista Juarez de Castro, 35, dono do Tempra, não reconheceu Ricardo como sendo um dos homens que o assaltaram.
Castro reconheceu Pereira, que confessou o crime e acusou Ricardo. Este foi ao 70º DP depor acompanhado por um capitão, por homens do Serviço Reservado da PM e por dois carros: a Quantum placa CAL-8974 e o Gol placa BPA-2710.
"Tenho certeza que não era ele", disse o taxista após tentar reconhecer Ricardo no 70º DP. Castro foi procurado em casa pela Corregedoria da PM na semana passada.
Os PMs disseram que pretendiam fazer o retrato falado do assaltante que estava com o garçom. Até ontem, o retrato falado não havia sido apresentado ao 70º DP.
Ontem, em nota oficial, o comando da PM disse que a apuração "está afeita à Polícia Civil" e que só irá instaurar o "devido procedimento apuratório" quando receber formalmente cópias das acusações feitas por Pereira.
Segundo a nota, ao contrário do que disse ao depor, o garçom não foi funcionário civil da PM nem trabalhou no quartel do Centro de Subsistência. "Ele era garçom de um bar em frente ao centro."

"Regalias"
Ao ser preso, o garçom afirmou que conheceu Ricardo quando ele trabalhava no Centro de Subsistência da PM. Segundo ele, o "filho do coronel" lhe vendia armas e escondia os carros roubados na casa da mãe em Porto Feliz (SP).
O acusado disse que, por causa "das regalias de Ricardo", chegou a guardar carros roubados no quartel-general da PM e que trocou a placa do Tempra roubado no quartel do Centro de Subsistência.
A prisão de Pereira aconteceu após uma perseguição que terminou com o atropelamento da menina Andrea Thaís Costa Oliveira. Pereira estava com o Tempra roubado quando foi visto por PMs.
Ele fugiu, subiu em uma praça e atropelou a menina. No 70º DP, forneceu o telefone da casa de Ricardo e disse que eram amigos.
Pereira afirmou que ia ganhar R$ 1.000 com a venda do Tempra, que seria feita por Ricardo. Os dois foram acareados ontem no 70º DP.
Ricardo afirmou que estava em Porto Feliz no dia do roubo. Pereira manteve sua versão de que ele participou do roubo do Tempra. "Não fui ameaçado. Se fosse ele (Ricardo), eu o reconheceria", afirmou o taxista.

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