São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Pesquisa aponta as maiores preocupações dos jovens de SP

Campanha dos candidatos mira desemprego e violência

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os jovens, principais vítimas dos assassinatos cometidos em São Paulo, são os menos preocupados com a violência na cidade. Só 21% dos paulistanos com 16 a 24 anos consideram a segurança o principal problema municipal. A média na cidade é 29%.
É que os jovens habitantes têm outro tema para se preocupar: o desemprego. Este foi o maior problema de São Paulo citado por outros 21% de jovens, em pesquisa Datafolha feita entre 19 e 22 de agosto.
Não se trata de uma característica local. Uma pesquisa mundial, conduzida este ano por um pool de agências de publicidade, revelou que em todos os países pesquisados a maior preocupação dos adolescentes era o emprego.
Num ano eleitoral, as questões do emprego e da segurança pública estão na boca de candidatos a prefeito e a vereador. Eles se alimentam de pesquisas para moldar seu discurso de campanha ao gosto do leitor.
As estatísticas mostram que os paulistanos que estão entrando no mercado de trabalho sofrem mais com o problema do desemprego. Pesquisa da Fundação Seade aponta que há 37,7% de desempregados entre adolescentes de 15 a 17 anos.
Na faixa de 18 a 24 anos, o desemprego atinge 21,7% dos jovens. Mesmo assim, a taxa ainda é mais alta do que a de todas as faixas etárias posteriores.
A razão desse fenômeno é a busca, por parte dos empregadores, de trabalhadores cada vez mais qualificados -tanto em termos de experiência profissional como em grau de escolaridade.
Na disputa com a concorrência, as empresas acabam preterindo justamente os menos experientes e que têm menos tempo de escola. Uma razão ou outra acaba sendo um obstáculo intransponível para cerca de um terço dos jovens arrumarem o emprego que procuram.
As razões aparentes para os jovens serem também as principais vítimas da violência na cidade são outras, como o tráfico de drogas e o consumo exagerado de álcool.
Entretanto, na base de ambos os problemas, a causa é a mesma: a dificuldade de quem está iniciando a vida, principalmente se a pessoa mora na periferia de São Paulo, conseguir ascender socialmente.
Na faixa de 15 a 24 anos, os homicídios são responsáveis por 54,4% das mortes que ocorrem na cidade. Esses percentuais são ainda mais altos em bairros pobres e violentos, como o Jardim Ângela (zona sul).
Segundo a própria polícia, os jovens de áreas periféricas têm, por um lado, poucas alternativas de emprego e, por outro, o "sucesso" de criminosos locais como único exemplo de ascensão social.
A tentação de enveredar pelo mesmo caminho é grande, embora o preço pago em muitos casos seja ainda maior.
Segundo os especialistas, não há soluções simples para problemas como a violência e o desemprego.
Elas começam com investimentos sociais para melhorar as condições de saúde, moradia e transporte da população das periferias da cidade e se estendem por programas de treinamento e de incentivo à permanência do jovem na escola.
Por todas essas razões, não serão apenas promessas eleitorais de fábricas de empregos e de mais polícia na rua que resolverão os problemas dos jovens paulistanos.

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