São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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PAS deixa 28 mil pessoas sem função

Médico fora do plano da prefeitura acaba 'exilado'

FÁBIO SANCHEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O PAS (Plano de Atendimento à Saúde), sistema de assistência médica da Prefeitura de São Paulo, deixou sem função 28 mil funcionários da Secretaria da Saúde que não aderiram aos seus quadros, entre eles mais de 3.000 médicos.
O número total de funcionários é fornecido pelo Sindicato dos Servidores Municipais. A Secretaria de Saúde diz que não tem condições de informar o número de transferências de seus quadros após a implantação do plano, mas admite que pelo menos 15 mil estão nessa situação.
Esses funcionários, a maioria estáveis, foram distribuídos por diversas secretarias que têm poucas ocupações a oferecer nas suas especialidades.
Dois ex-secretários da Saúde da gestão Maluf ouvidos pela Folha criticam a maneira como as transferências aconteceram.
Getúlio Hanashiro, secretário de janeiro a novembro de 1995, acredita que a transferência dos que não aderiram ao plano criou um "trauma" entre os profissionais que atuam no sistema de atendimento médico da cidade.
Raul Cutait, que dirigiu a secretaria de janeiro a julho de 1993, considerou a implantação do PAS muito abrupta e lamenta que o plano tenha desmanchado "equipes de excelência que levaram anos para ser formadas".
"Prejuízo brutal"
Um caso citado por Cutait é o do Hospital Menino Jesus, na Bela Vista (centro), especializado no atendimento a crianças com doenças graves, que teve equipes de especialistas alteradas ou desmontadas nas áreas de urologia infantil, citogenética, imunologia, neuropediatria e cirurgia plástica.
O médico Antônio Carlos Madeira Arruda, que dirigiu o hospital de janeiro de 1993 até o ano passado, acredita que a remoção das equipes que trabalhavam no local criou "um prejuízo brutal" para as crianças que são acompanhadas há anos pelos mesmos médicos.
Entre os médicos que trabalhavam na área de saúde mental também houve resistência ao PAS e um novo desmanche de equipes.
Segundo a Associação SOS Saúde Mental de São Paulo, o número de profissionais que trabalham no atendimento nesse tipo de doença caiu de 1.200 para 750 após o PAS. O de pessoas atendidas teria sido reduzido em 16 mil.
"Exílio"
O médico Jorge Pereira, que dirigia o setor de ortopedia infantil do Hospital Municipal do Tatuapé, não quis integrar o PAS e foi transferido para o Centro Educacional da Mooca (zona leste), da Secretaria de Esportes.
Outros 190 funcionários que atuavam no sistema de prevenção à Aids da prefeitura foram transferidos há dois meses para prédio do governo estadual no Butantã (zona oeste), onde passam o tempo sem ter o que fazer.
"Nós ficamos exilados aqui. Ninguém imaginou que um administrador público fosse capaz disso", disse uma infectologista que não quis se identificar.
Não há no local nenhuma placa que informe a população de que ali há um serviço especializado em Aids.
Segundo o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, os funcionários foram distribuídos sem critérios.

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